Comunicação – Atividade de interpretação de texto

Um dos recursos mais eficazes para construir um texto é ler outros textos que tenham as características desejadas pela banca. Não se trata aqui de copiar as ideias de outra pessoa, mas de conhecer estruturas que possam servir de base para nossas próprias produções. Neste aspecto, buscar na Literatura exemplos que sejam desejáveis para quem quer escrever um texto nota 10 é muito bom. O que proponho neste artigo é fazermos alguns exercícios de interpretação de texto que nos ajudem a pensar mais e melhor a respeito de nossas produções. Vamos lá?

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Atividade de interpretação de textos

Texto para os exercícios de 1 a 6

Comunicação

É importante saber o nome das coisas. Ou, pelo menos, saber comunicar o que você quer. Imagine-se entrando numa loja para comprar um… um… como é mesmo o nome?
“Posso ajudá-lo, cavalheiro?”
“Pode. Eu quero um daqueles, daqueles…”
“Pois não?”
“Um… como é mesmo o nome?”
“Sim?”
“Pomba! Um… um… Que cabeça a minha. A palavra me escapou por completo. É uma coisa simples, conhecidíssima.”
“Sim senhor.”
“O senhor vai dar risada quando souber.”
“Sim senhor.”
“Olha, é pontuda, certo?”
“O quê, cavalheiro?”
“Isso que eu quero. Tem uma ponta assim, entende? Depois vem assim, assim, faz uma volta, aí vem reto de novo, e na outra ponta tem uma espécie de encaixe, entende? Na ponta tem outra volta, só que esta é mais fechada. E tem um, um… Uma espécie de, como é que se diz? De sulco. Um sulco onde encaixa a outra ponta; a pontuda, de sorte que o, a, o negócio, entende, fica fechado. E isso. Uma coisa pontuda que fecha. Entende?”
“Infelizmente, cavalheiro…”
“Ora, você sabe do que eu estou falando.”
“Estou me esforçando, mas…”
“Escuta. Acho que não podia ser mais claro. Pontudo numa ponta, certo?”
“Se o senhor diz, cavalheiro.”
“Como, se eu digo? Isso já é má vontade. Eu sei que é pontudo numa ponta. Posso não saber o nome da coisa, isso é um detalhe. Mas sei exatamente o que eu quero.”
“Sim senhor. Pontudo numa ponta.”
“Isso. Eu sabia que você compreenderia. Tem?”
“Bom, eu preciso saber mais sobre o, a, essa coisa. Tente descrevê-la outra vez. Quem sabe o senhor desenha para nós?”
“Não. Eu não sei desenhar nem casinha com fumaça saindo da chaminé. Sou uma negação em desenho.”
“Sinto muito.”
“Não precisa sentir. Sou técnico em contabilidade, estou muito bem de vida. Não sou um débil mental. Não sei desenhar, só isso. E hoje, por acaso, me esqueci do nome desse raio. Mas fora isso, tudo bem. 0 desenho não me faz falta. Lido com números. Tenho algum problema com os números — mais complicados, claro. 0 oito, por exemplo. Tenho que fazer um rascunho antes. Mas não sou um débil mental, como você está pensando.”
“Eu não estou pensando nada, cavalheiro.”
“Chame o gerente.”
“Não será preciso, cavalheiro. Tenho certeza de que chegaremos a um acordo. Essa coisa que o senhor quer, é feita do quê?”
“É de, sei lá. De metal.”
“Muito bem. De metal. Ela se move?”
“Bem… É mais ou menos assim. Presta atenção nas minhas mãos. É assim, assim, dobra aqui e encaixa na ponta, assim.”
“Tem mais de uma peça? Já vem montado?”
“É inteiriço. Tenho quase certeza de que é inteiriço.”
“Francamente…”
“Mas é simples! Uma coisa simples. Olha: assim, assim, uma volta aqui, vem vindo, vem vindo, outra volta e dique, encaixa.”
“Ah — tem dique. É elétrico.”
“Não! Clique, que eu digo, é o barulho de encaixar.”
“Já sei!”
“Ótimo!”
“O senhor quer uma antena externa de televisão.”
“Não! Escuta aqui. Vamos tentar de novo…”
‘Tentemos por outro lado. Para o que serve?”
“Serve assim para prender. Entende? Uma coisa pontuda que prende. Você enfia a ponta pontuda por aqui, encaixa a ponta no sulco e prende as duas partes de uma coisa.”
“Certo. Esse instrumento que o senhor procura funciona mais ou menos como um gigantesco alfinete de segurança e…”
“Mas é isso! É isso! Um alfinete de segurança!”
“Mas do jeito que o senhor descrevia parecia uma coisa enorme, cavalheiro!”
“É que eu sou meio expansivo. Me vê aí um… um… como é mesmo o nome?”

Luís Fernando Veríssimo. Para gostar de ler — Crônicas.

1. O texto lido envolve ao mesmo tempo dois tipos de estrutura. Reconheça esses tipos e demonstre argumentativamente qual deles é predominante.


2. Esse texto é inteiramente constituído por um recurso discursivo próprio das narrativas. De que recurso se trata?

3.    Que tipo de efeito esse recurso cria?

4.    Na última fala “É que eu sou meio expansivo. Me vê aí um,.. um… como é mesmo o nome?”, o protagonista caracteriza a si mesmo como “meio expansivo”.

a)  Pelos dados textuais, por que o protagonista emprega “meio expansivo” em vez de “expansivo”?

b)  Empregue outro adjetivo para caracterizar esse protagonista.

5.    Que forças opostas criam o conflito dessa narrativa?

6.    Com que tom esse relato é narrado?

[sociallocker id=”40″]Gabarito dos exercícios

1. Esse texto é predominantemente narrativo, pois contém um relato de transformações em que um conflito é solucionado. No entanto, nele também há descrição, já que seu tema é justamente a necessidade de arrolar as características de um objeto, de cujo nome o protagonista se esqueceu, para que se possa identificá-lo.

2. Trata-se do discurso direto: recurso discursivo com que o narrador cede espaço para que as personagens possam falar (expressar-se) diretamente.

3. Esse recurso cria o efeito de verossimiIhança (de verdade fabricada): as personagens se expressam como “são” normalmente. Trata-se de mais um elemento caracterizador de personagens.

4.
a) Meio, como advérbio, significa “um pouco”. Ao se autoproclamar “meio expansivo”, o protagonista tenta se defender da insinuação de que ele é exagerado (hiperbólico), o que fica confirmado pela “expansão” dos elementos descritivos usados por ele.

b) Esquecido (desligado).

5. De um lado, um comprador que deseja um produto de cujo nome não se lembra e nem sabe descrevê-lo com exatidão; de outro, um vendedor, atento e preciso nos detalhes, querendo vender o produto.

6. Com o tom de brincadeira, de uma certa ironia disfarçada.

7. Segurança (porque ocorriam poucas mudanças na sociedade e na cultura), unanimidade de opiniões (os envolvidos no processo educativo compartilhavam das mesmas ideias), obediência à autoridade (não se desobedecia aos hierarquicamente superiores).

8. “a estonteante rapidez do progresso técnico”.[/sociallocker]