Vamos aprender Português com música?

Este artigo foi publicado pela primeira vez na antiga versão do Quero Aprender Português. Agora, com roupagem e objetivos diferentes, estou reescrevendo, um a um os artigos. dessa forma, mantenho aquilo que deu certo num primeiro momento, reescrevo algumas coisas com outras motivações e, de quebra, cuido um pouco mais da parte estrutural do projeto.
Minha experiência em sala de aula mostra que qualquer assunto fica mais atrativo quando usamos músicas de que os alunos gostam. Na verdade, posso ir mais longe. Qualquer assunto fica melhor com música. Lembro-me, por exemplo, de quando, pra falar sobre a Discurso, sobre mudanças na maneira como a mulher é vista pela sociedade eu coloquei a música “Desconstruindo Amélia, da Pitty. Fiz isso logo depois de apresentar a primeira versão da “Amélia”, interpretada pelos Demônios da Garoa [ confira neste link ].

aprender portugues

Ouvindo outras canções enquanto preparava minhas aulas, cheguei a esta abaixo. Quem interpreta é Caetano Veloso. Você verá ainda que a canção é um ótimo exemplo de predicado verbal. Por último, poderá verificar se aprendeu o que é predicado verbal fazendo os exercícios de Língua Portuguesa sobre predicado.
Todos nós já nos apaixonamos pelo menos uma vez na vida. Alguns por muito tempo, outros apenas por um verão. Isso que eu disse, certamente daria um belo refrão para a nova música do Latino, mas a canção “Mimar você”, interpretada aqui por Caetano Veloso faz isso com a simplicidade própria de quem ama. A letra é carregada de lirismo e descrições que me transportam para a cena.
Te quero só pra mim Você mora em meu coração Não me deixe só aqui esperando mais um verão Te espero meu bem Pra gente se amar de novo Mimar você Nas quatro estações Relembrar O tempo que passamos juntos Bem bom viver Andar de mãos dadas Na beira da praia Por esse momento Eu sempre esperei
Em determinado momento da canção, Caetano Veloso diz  “mimar você” o que é, também, a expressão que dá nome à música. Este é um belo exemplo de predicado verbal.
Predicado verbal é aquele que tem um verbo como núcleo. Este verbo pode apresentar um complemento ou não.
No exemplo dado teríamos:
Mimar você. VTD + OD
Há orações que apresentam complemento verbal (objeto direto e objeto indireto). Chamamos de transitivos os verbos que trazem estes complementos. Dessa forma, temos:
  • Verbos transitivos diretos: são aqueles em que não há preposição entre o verbo e o seu complemento.
  • Verbos transitivos indiretos: são aqueles em que há preposição.
Claro, se houver os dois complementos para o mesmo verbo, temos a transitividade direta e indireta.
E os verbos intransitivos? Intransitivos são os que não trazem complementos verbais.
CUIDADO: Existem verbos intransitivos que apresentam preposição, não para formar objeto indireto, mas para compor adjunto adverbial.
Vamos às explicações então. Observem os exemplos que seguem:
O professor viu o vídeo da canção.
Sujeito + v.t.d. + Objeto direto
Vejam que o verbo “viu” precisa de complemento, por isso é transitivo. Quem vê, vê algo, eu diria. O complemento é “o vídeo da canção” e como se liga ao verbo sem a necessidade de preposição, este é classificado como transitivo direto. Cabe ainda dizer que o sujeito (o professor) praticou a ação de ver e “o vídeo da canção” recebeu a ação, portanto o objeto direto tem valor passivo.
Vamos a mais um exemplo:
O professor precisava de ajuda profissional.
Sujeito + v.t.i. + objeto indireto
Nesse exemplo, o verbo apresenta um complemento e liga-se a esse por meio da preposição “DE”. A preposição “de” caracteriza uma transitividade indireta. Quem precisa, precisa de algo.
Pra encerrar os exemplos de verbos transitivos, vejamos um com dois tipos de complementos.
As provas de amizade trouxeram cumplicidade aos namorados.
Sujeito + v.t.d.i. + obj. dir. + obj. indir.
Veem alguma semelhança com os exemplos primeiros? “As provas de amizade” trouxeram algo a alguém. São dois os complementos verbais. Temos o objeto direto e o objeto indireto. O objeto direto é “cumplicidade” e o objeto indireto é “aos namorados”.
Pra encerrar o assunto “transitividade verbal”, vejamos um exemplo em que não há transitividade.
A brasiliense viajou.
Sujeito + v.i.
Eu afirmei que não há transitividade e isso se justifica pela ausência de complemento verbal. O prefixo “in” comunica a não transitividade verbal, isto é, o verbo não apresenta um complemento verbal.
Não adianta decorar listas de verbos. Análise sintática é a classificação das palavras e expressões no contexto em que estão inseridos. Isso significa que um mesmo verbo pode ser ora transitivo direto, ora transitivo indireto.

Este post traz uma lista completa de verbos segundo sua transitividade. São estes os casos principais e incluí aqueles cuja mudança de regência pode alterar o sentido do mesmo.

Regência de alguns verbos

Verbos intransitivos

Chegar e ir são normalmente acompanhados de adjuntos adverbiais de lugar. Na língua-padrão, as preposições usadas para indicar direção são a e para. A preposição em deve ser usada para indicações de tempo ou meio. Exemplos:

  • Chegamos a Salvador em meados de janeiro.
  • Cheguei a Manaus num velho barco.
  • Fui ao cinema no domingo.
  • Fomos para Brasília.

Verbos transitivos diretos

Veja abaixo uma lista de verbos transitivos diretos: abandonar, ajudar, conservar, prejudicar, abençoar, alegrar, convidar, prezar, aborrecer, ameaçar, defender, proteger, abraçar, amolar, eleger, respeitar, acompanhar, auxiliar, estimar, socorrer, acusar, castigar, humilhar, suportar, admirar, condenar, namorar, adorar, conhecer, ouvir, visitar. Na língua-padrão, o funcionamento desses verbos é idêntico ao do verbo amar:

  • Amo aquela mulher/Amo-a.
  • Amam aquele menino./Amam-no.
  • Ele vai amar aquela mulher. / Ele vai amá-la.
Observação:

Como já sabemos e foi visto acima, os pronomes pessoais do caso oblíquo que atuam como objetos diretos são “o, os, a, as” que podem assumir as formas Io, los, Ia, Ias (após formas verbais terminadas em -r, -s ou -z) ou no, nos, na, nas (após formas verbais terminadas em sons nasais). Não se devem usar como complemento desses verbos os pronomes lhe, lhes.


Verbos transitivos indiretos

Como sabemos, os pronomes pessoais do caso oblíquo que atuam como objetos indiretos de pessoa são lhe, lhes: não se devem usar os pronomes o, os, a, as como complementos de verbos transitivos indiretos. Com os objetos indiretos que não indicam pessoa, usam-se os pronomes oblíquos tônicos de terceira pessoa em lugar dos pronomes átonos lhe, lhes. Lembre-se de que os verbos transitivos indiretos não admitem voz passiva – falarei disso mais pra frente neste post. Antipatizar e simpatizar, que têm complemento introduzido pela preposição com:

  • Antipatizo com os que defendem aquele rapaz.
  • Simpatizo com os que defendem a proibição da caça às baleias.

Esses verbos não são pronominais. Não se deve dizer, portanto, “antipatizei-me com alguém” ou “simpatizei-me com alguém”. Consistir, que tem complemento introduzido pela preposição em:

  • Desenvolvimento consiste em melhor padrão de vida para todos.

Obedecer e desobedecer, que têm complemento introduzido pela preposição a:

  • Obedeço a velhos preceitos. / Não desobedeço a meus princípios.

Apesar de transitivos indiretos, admitem a voz passiva analítica:

  • Sinais de trânsito devem ser obedecidos.
  • Certas normas mínimas de civilidade não podem ser desobedecidas.

Observe que obedecer-lhe equivale a “obedecer a alguém”, enquanto “obedecer a ele” ou “obedecer a ela” equivalem também a “obedecer a algo” (por exemplo, a uma lei). Isso acontece também a desobedecer. Responder, que tem complemento introduzido pela preposição a:

  • Respondi a vários interessados.
  • Respondemos às questões propostas.

Também admite voz passiva analítica, desde que o sujeito seja aquilo a que se responde:

  • Todas as perguntas foram respondidas satisfatoriamente.
Verbos indiferentemente transitivos diretos ou indiretos

Alguns verbos podem ser usados como transitivos diretos ou transitivos indiretos, sem que isso implique alteração de sentido: abdicar (de), anteceder (a), consentir (em), preceder (a), acreditar (em), atender (a), deparar (com), presidir (a), almejar (por), atentar (em, para), gozar (de), renunciar (a), ansiar (por), cogitar (de, em), necessitar (de), satisfazer (a). Também podem ser usados como transitivos diretos ou transitivos indiretos os verbos esquecer e lembrar. Nesse caso, porém, há um detalhe importante: quando transitivos indiretos, esses verbos são também pronominais:

  • Esqueci tudo.
  • Esqueci-me de tudo.
  • Não esqueça seus amigos.
  • Não se esqueça de seus amigos.
  • Não esquecemos nossas reivindicações.
  • Não nos esquecemos de nossas reivindicações.
  • Não lembro nada.
  • Não me lembro de nada.

Esses verbos também apresentam uma outra possibilidade de construção hoje restrita à língua literária:

  • Não me esquecem aqueles dias maravilhosos. (= não me saem da memória…)
  • Não me lembrou o dia dos teus anos. (= não me veio à lembrança…)

Lembrar, no sentido de “advertir, notar, fazer recordar”, usa-se com objeto indireto de pessoa e objeto direto que indica a coisa a ser lembrada:

  • Lembrei aos meus amigos que muita coisa ainda tinha de ser feita.

Verbos transitivos diretos e indiretos

Agradecer, perdoar e pagar, que apresentam objeto direto de coisa e objeto indireto de pessoa:

  • Agradeci a ajuda a meu velho amigo.
  • Não perdoarei a dívida aos maus pagadores.
  • Pagamos as contas ao cobrador.

O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito com particular cuidado. Observe:

  • Agradeci um favor. / Agradeci-o.
  • Perdoei a quem me ofendeu. / Perdoei-lhe.
  • Agradeci a um amigo. /Agradeci-lhe.
  • Paguei minhas contas. / Paguei-as.
  • Perdoei a ofensa. / Perdoei-a.
  • Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes.

Informar, que apresenta objeto direto de coisa e objeto indireto de pessoa, ou vice-versa:

  • Informe os novos prazos aos interessados.
  • Informe os interessados dos novos prazos, (ou sobre os novos prazos)

Quando se utilizam pronomes como complementos, podem-se obter as construções:

  • Informe-os aos interessados. / Informe-lhes os novos prazos.
  • Informe-os dos novos prazos. / Informe-os deles, (ou sobre eles)

Preferir, que na língua-padrão deve apresentar objeto indireto introduzido pela preposição a:

  • Prefiro doces a salgados.
  • Preferimos liberdade a privilégios.
  • Prefiro que me ajudes a que me aconselhes.

Esse verbo deve ser usado sem termos intensificadores como muito, antes, mil vezes, um milhão de vezes. Segundo os gramáticos que fazem essa observação, a ênfase já é dada pelo prefixo verbal.

Quem não pratica, se trumbica diria o adágio popular. Nos links abaixo você encontrará uma lista de exercícios de classificação de predicado que publiquei no blog Análise de textos.