Como estudar interpretação de textos com exercícios

No artigo de hoje vamos estudar um pouco mais como é que se dá a construção do sentido nos enunciados de provas com as quais vocês já têm contato no dia a dia e também como estudar interpretação de textos com exercícios. A maioria dos alunos (e alguns professores) não entendem que estudar Língua Portuguesa não é um ato concretizado apenas na sala de aula durante aqueles 50 minutos em que discutimos o que é denotação/conotação ou mesmo quando comentamos sobre colocação de palavras, figuras de linguagem ou processos de coesão e coerência textuais.

Estudar Português é uma tarefa incessante, porém não deve ser pesada. Quando assistimos a um filme, quando andamos pelas ruas, quando mandamos uma indireta pra alguém lá no Twitter, estamos colocando na prática o que aprendemos nos bancos escolares. Todo processo comunicativo é levado em conta e acabamos produzindo enunciados cujo sentido vai além das simples palavras colocadas na folha/tela. Nos exercícios propostos abaixo você verá como é muito mais amplo o estudo e usará seus conhecimentos prévios para resolver as questões.

Exercícios sobre construção de sentido

1. Você aprendeu a diferenciar as situações em que a linguagem utilizada em um texto está organizada em torno do eixo denotativo ou conotativo. Com base nos textos 1 e 2, transcritos a seguir, faça o que se pede.

Texto 1


Uma escrita secreta só para mulheres

Durante séculos proibidas de ler e escrever, as mulheres da província chinesa de Jiangyong acabaram por desenvolver seu próprio sistema secreto de escrita.
Vivendo sob o controle dos homens — em casamentos arranjados e violentos —, elas criaram o Nu Shu, que significa “escrita feminina”, para poder se comunicar e se ajudar por meio de poemas, narrativas e canções, às vezes bordados em panos. Baseados no chinês tradicional, os caracteres foram mudados de modo a ter novos significados e eram traçados de maneira delicada. O vocabulário foi extraído de um dialeto local. Hoje, poucas mulheres são capazes de ler e escrever Nu Shu, mas o governo já se comprometeu a destinar recursos para um museu e a feitura de um dicionário como forma de preservar a escrita.

National Geographic Brasil. São Paulo: Abril, ano 4, n. 37, maio 2003. (Fragmento).

Texto 2

Amor

O vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia sua própria conversa com o cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifício.

LISPECTOR, Clarice. In: Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. (Fragmento).

A) Identifique se o uso da linguagem, em cada um deles, foi conotativo ou denotativo.

B) Explique a razão de sua “classificação”.

Leia atentamente a tira a seguir.

 

2. A tira nos apresenta uma personagem que vai consultar o Livro dos provérbios para descobrir o que significa a expressão “Quem tem boca vai a Roma”.
A) Qual é o sentido usual atribuído a esse provérbio?
B) A resposta encontrada pela personagem confirma esse sentido? Por quê?
C) É possível interpretar a resposta encontrada de modo figurado. Explique.

Leia a charge a seguir para responder as questões propostas. Lembre-se de que é cada vez mais comum nas provas de vestibulares e Enem o uso de textos mistos, verbais e não-verbais, em suas provas de acesso às faculdades.

 

Que sentido é esse?.

3. Observe que a expressão “ver umas minas na areia” é comumente utilizada com um determinado sentido.
A) Que sentido é esse?
B) Com que sentido ela é utilizada pelo soldado uniformizado? Justifique sua resposta.

4. Os enunciados a seguir, de sentido denotativo, foram construídos a partir de conhecidos provérbios. Procure identificá-los, recuperando, assim, o sentido conotativo que as palavras devem ter nesse tipo particular de discurso.

A) A substância inodora e incolor que já se foi não é mais capaz de comunicar movimento ou ação ao engenho especial para triturar cereais.
B) Quando o sol está abaixo do horizonte a totalidade dos animais domésticos da família dos felídeos são de cor mescla entre branco e preto.
C) Aquele que anuncia por palavras tudo que satisfaz ao seu ego tende a perceber pelos órgãos da audição coisas que não se destinam a aumentar-lhe o sentimento de euforia.

PAULILLO, Maria Célia R. A. Literatura comentada: Millôr Fernandes. São Paulo: Abril Educação.

5. Procure construir, assim como Millôr Fernandes, enunciados de sentido denotativo a partir dos provérbios a seguir.

A) Quem ama o feio, bonito lhe parece.
B) Santo de casa não faz milagre.
C) O diabo não é tão feio quanto se pinta.

6. Com o objetivo de conscientizar os viajantes para uma postura de respeito ao meio ambiente, principalmente com relação ao lixo jogado nos locais turísticos, uma empresa de turismo patrocinou um projeto de educação ambiental para o turismo, orientado pelo Ibama.

 

A) Como deve ser interpretado o enunciado “Passe suas férias a limpo”, na propaganda reproduzida acima?
B) Que elementos permitem chegar a uma resposta ao item anterior?

Leia a tira a seguir.

 

7. Observe que a expressão usada pelo garotinho é comumente usada com um determinado sentido.
A) Que sentido é esse?
B) Com que sentido ela é usada pelo garoto? Justifique sua resposta.

8. A Bamerindus Seguros, no dia dos namorados, veiculou, em revistas e jornais de circulação nacional, uma propaganda com o seguinte enunciado:

Tanta coisa para fazer no escuro e você vai fazer logo seguro?

A) A expressão “no escuro” pode ser entendida em dois sentidos. Quais são eles?
B) Que relação se pode estabelecer entre o sentido literal da expressão “no escuro” e o fato de a propaganda ter sido veiculada no dia dos namorados?
C) Qual seria a interpretação adequada do enunciado da propaganda? em outras palavras: o que a seguradora estaria afirmando a respeito do seu produto?

9. Leia o texto a seguir.

— Muito bom dia, senhora,
que nessa janela está;
sabe dizer se é possível
algum trabalho encontrar?
— Trabalho aqui nunca falta
a quem sabe trabalhar;
o que fazia o compadre
na sua terra de lá?
— Pois fui sempre lavrador,
lavrador de terra má;
não há outra espécie de terra
que eu não possa cultivar. […] — E se pela última vez
me permite perguntar:
não existe outro trabalho
para mim neste lugar?
— Como aqui a morte é tanta,
só é possível trabalhar
nessas profissões que fazem
da morte ofício ou bazar.
Imagine que outra gente
de profissão similar,
farmacêuticos, coveiros,
doutor de anel no anular,
remando contra a corrente
da gente que baixa ao mar,
retirantes às avessas,
sobem do mar para cá.
Só os roçados da morte
compensam aqui cultivar,
e cultivá-los é fácil:
simples questão de plantar;
não se precisa de limpa,
de adubar nem de regar;
as estiagens e as pragas
fazem-nos mais prosperar;
e dão lucro imediato;
nem é preciso esperar
pela colheita: recebe-se
na hora mesma de semear.

MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina e outros poemas em voz alta. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. (Fragmento).

Nesse trecho de Morte e vida severina, o poeta João Cabral de Melo Neto constrói uma imagem (figura) para representar a morte. Que imagem é essa? Transcreva as palavras ou expressões que o autor usa para construir essa imagem. Lembre-se ainda de que já falamos aqui no site Mais Educativo sobre algumas formas de aprender a interpretar textos.

10. Leia o texto a seguir e responda ao que se pede.

Novos provérbios
Quem não deve não treme.
Quem tudo quer tudo pede.
A pressa é inimiga da refeição.
De grão em grão a galinha enche e eu papo.

NUNES, Max. Seleção e organização: Ruy Castro. O pescoço da girafa: pílulas de humor por Max Nunes. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

A) É possível identificar o trabalho do sujeito com a linguagem na “reconstrução” de alguns provérbios. Que provérbios dão origem aos “novos”?
B) De que recursos de linguagem se vale Max Nunes e que efeito pretende obter com sua utilização?