Importância do contexto na interpretação

Quando se vai escrever uma redação nota 1000 no Enem ou mesmo quando vamos responder questões de outras áreas do conhecimento é imprescindível que conheçamos o contexto em que se insere os exercícios. O contexto nos ajuda, por exemplo, a entender se devemos interpretar um enunciado no sentido conotativo ou denotativo. esse é apenas um dos muitos problemas que podemos evitar quando entendemos o contexto. Vamos falar mais sobre isso, detalhadamente, na continuidade do artigo.

Contexto – A base para a compreensão

O contexto orienta tanto a produção como a recepção da informação escrita.

Imagine se as placas de trânsito, em vez de conterem instruções breves como o nome de uma cidade e a quantidade de quilômetros que falta para alcançá-la, se estendessem em longas explicações. Não iria funcionar. Apesar de lacónicas, as placas estão inseridas numa determinada situação sociocomunicativa. Ela exige que a informação seja disposta de forma a mais resumida possível, para ser apreendida rapidamente em um determinado contexto (no caso, a passagem do motorista na estrada).

O contexto pode oferecer elementos para que o leitor compreenda a mensagem. Para isso, o texto deve se adequar à situação sociocomunicativa. O critério de textualidade que diz respeito à relevância e à pertinência do texto quanto ao contexto em que ele ocorre é chamado de situacionalidade. Assim, algo que poderia ser visto como incoerência e falta de textualidade, em determinada situação, é visto como qualidade em outra. Por exemplo, imagine as figuras de antítese presentes em muitos poemas (um exemplo: “Amor é fogo que arde sem ver /ferida que dói e não se sente”) num texto argumentativo, que deve, a princípio, ser claro e preciso o suficiente para convencer o leitor.

Leia o texto a seguir:


“Quando eu falo com vocês, procuro usar o código de vocês. A figura do índio no Brasil de hoje não pode ser aquela de 500 anos atrás, do passado, que representa aquele primeiro contato. Da mesma forma que o Brasil de hoje não é o Brasil de ontem, tem 160 milhões de pessoas com diferentes sobrenomes. Vieram para cá asiáticos, europeus, africanos, e todo mundo quer ser brasileiro. A importante pergunta que nós fazemos é: qual é o pedaço de índio que vocês têm? O seu cabelo? São seus olhos? Ou é o nome da sua rua? O nome da sua praça? Enfim, vocês devem ter um pedaço de índio dentro de vocês. Para nós, o importante é que vocês olhem para a gente como seres humanos, como pessoas que nem precisam de paternalismos, nem precisam ser tratadas com privilégios. Nós não queremos tomar o Brasil de vocês, nós queremos compartilhar esse Brasil com vocês.”


TERENA, M. Debate. MORIN, E. Saberes Globais e Saberes Locais. Rio de Janeiro: Garamond, 2000, adaptado.

Nesse exemplo, o falante/produtor do texto, apesar de dominar o código de comunicação indígena, opta por utilizar a norma-padrão da língua para que os ouvintes/leitores não índios possam captar o que pretende dizer. Ele aplica procedimentos argumentativos para esse tipo de público. É disso que trata a situacionalidade.

Outro critério de textualidade é a informatividade. Ela está diretamente ligada à quantidade e à qualidade de informação. Esse critério se baseia na relação entre informações novas e informações já apresentadas. Nesse sentido, há textos com alto grau de informatividade (que são os que apresentam maior quantidade de novas informações) e os com baixo teor informativo (centrados em poucas informações) – o que, em si, não é problema. O teor informativo diz respeito ao género em que o texto está organizado. Por exemplo, uma notícia de jornal, de acordo com o critério dado, terá baixa informatividade, pois centra-se em um único acontecimento. Já um romance literário, provavelmente, terá alto teor informativo, pois apresenta uma série de informações novas para o leitor na medida em que este avança na leitura.

Por fim, outro critério de textualidade implica, em muitos casos, o conhecimento prévio de outros textos para compreensão de determinada mensagem. De modo mais especial ainda, isso importa quando vamos escrever uma redação do Enem. É a chamada “intertextualidade”. Dessa forma, “um texto torna-se o contexto de outro texto”, e o entendimento depende, em várias situações, de um conhecimento compartilhado entre produtor/falante e leitor/ouvinte. No anúncio reproduzido abaixo, temos um exemplo de intertextualidade: o produtor do texto espera que o leitor tenha conhecimento de uma famosa obra de arte para associá-la ao título “Viva o lado Coca-Cola (artístico) da vida”.