Começando a interpretar textos – exercícios
Este artigo traz alguns exercícios bastante interessantes a respeito do uso da língua nas mais diversas situações. Ele traz à tona questões a respeito de organização do texto, ambiguidade e também compreensão de texto, assunto que é, de longe, o mais exigido na prova do Enem. Além disso, a redação do Enem é outro assunto que
Exercícios com gabarito
1. O texto, numa primeira leitura, faz uma afirmação que parece absurda: chama a árvore de centroavante. Como sabemos, a língua nos permite fazer associações que dão sentido a certas interpretações aparentemente descabidas.
Para tornar legível, transcreveu-se a seguir a frase que atravessa o texto publicitário:
Para nós é um centroavante totalmente livre de marcação. Umbro. (A gente só pensa em futebol.)
a) Que particularidades da foto permitem associar a árvore com um centroavante sem marcação?
b) Essa inesperada associação entre a árvore e o centroavante reforça a afirmação contida nos parênteses (“A gente só pensa em futebol”). Explique por quê.
2. A língua é um instrumento que nos permite representar o mundo em que vivemos. Mas essa representação não é mera cópia, é uma interpretação, o que torna possível a ocorrência de visões distintas de um mesmo fato. Leia os dois textos que seguem.
I) As duas melhores equipes do futebol paulista prometem um bom espetáculo para esta noite no Pacaembu, mas as torcidas uniformizadas já confirmaram sua presença no estádio.
II) As duas melhores equipes do futebol paulista prometem um bom espetáculo para esta noite no Pacaembu, pois as torcidas uniformizadas já confirmaram sua presença no estádio.
Os dois trechos contêm as mesmíssimas informações, mas a mudança de uma simples conjunção altera completamente o ponto de vista do redator da notícia.
a) Em qual trecho a presença das torcidas uniformizadas no estádio é vista como um obstáculo à realização de um bom espetáculo? Justifique sua resposta.
b) Em qual trecho a presença das torcidas uniformizadas é interpretada como um fator favorável ao espetáculo?
Instrução para o exercício 3
Muitas vezes, a informação é transmitida de maneira clara pelo texto. Apesar disso, exige uma concentração maior para ser compreendida. Uma leitura rápida e desatenta pode nos levar a perder dados ou misturá-los indevidamente. A questão da Fuvest que vem a seguir serve para ilustrar o que se disse.
Este próximo exercício foi adaptado de uma questão da FUVEST-SP.
Não se trata aqui, é óbvio, de procurar eximir os meios de comunicação da responsabilidade por seus produtos. Mas determinar de antemão o que não pode ser veiculado é policiar a expressão livre de ideias e informações – ou seja, chancelar a censura.
Folha de S. Pauto, 28/8/97.
Depreende-se do texto que seu autor:
a) pretende corroborar a censura, embora afirme que os meios de comunicação devem ser responsabilizados por seus produtos.
b) isenta os meios de comunicação de responsabilidades em relação aos produtos que veiculam.
c) posiciona-se contra a censura prévia e reconhece que os meios de comunicação podem ser responsabilizados pelos produtos que veiculam.
d) pretende evitar a censura, estabelecendo critérios prévios quanto ao que pode ou não ser veiculado nos meios de comunicação.
e) busca transferir para o próprio órgão da imprensa a responsabilidade pela censura prévia.
Instrução para o exercício 4
Um inestimável serviço que a língua presta aos indivíduos é o de permitir a transmissão de informações. Prova disso são, por exemplo, as indicações preciosas das placas de rodovias, tais como, “Curva perigosa” e “Saída de veículos”, as orientações e recomendações dos manuais de instrução ao consumidor, as notícias dos jornais etc.
Mas é preciso levar em conta que a língua também pode ser utilizada para veicular informações mentirosas, falsas e que podem causar prejuízos às pessoas e à sociedade.
4. Leia o texto e resolva as questões a seguir. O texto e o item a foram extraídos de um vestibular da Unicamp, transcritos sem alteração; os demais itens são criações nossas.
Desinformar, ensina o dicionário, “é informar mal; fornecer informações inverídicas”. Empregada como arma de guerra, a desinformação significa trabalhar a opinião pública de modo que esta, chamada a decidir sobre ideia, pessoa ou evento, ajuíze conforme o querer do desinformador.
Não se trata de novidade. É recurso tão antigo quanto os conflitos. Porém, no Brasil, raramente foi tão hábil e eficientemente engendrada e utilizada como em 1932 em favor do Governo Provisório. Contribuiu para circunscrever o âmbito da Revolução Constitucionalista, inamistá-la em várias áreas do país e favorecer a mobilização destinada a enfrentá-la.
Gente simples, recrutada ao norte e ao sul, entrou na luta acreditando combater estrangeiros que, tendo se apoderado do controle econômico de S. Paulo, buscavam empalmar o mando político. Isso fariam ajudados por alguns paulistas antigos, egoístas, rancorosos, vingativos, intencionando fazer do Estado um país independente, hostil às áreas e às classes empobrecidas do Brasil. Os intrusos e os separatistas disfarçariam seus propósitos com o reclamar convocação da assembleia constituinte. Uns e outros deveriam ser combatidos sem piedade.
Hernâni Donato. “Desinformação, arma de guerra em 1932″. DO Leitura. São Paulo, junho de 1993.
a) Quem são, segundo o Governo Provisório, os dois inimigos a serem combatidos?
b) Qual é, segundo o texto, o objetivo da desinformação?
c) Na Revolução Constitucionalista de 1932, a desinformação atingiu os resultados esperados? A quem ela favoreceu?
5. No meio do terceiro parágrafo, encontramos a seguinte sequência de adjetivos: egoístas, rancorosos, vingativos.
a) A que substantivo do texto se referem tais adjetivos?
b) Esses qualificadores expressam o ponto de vista do autor do texto? Justifique sua resposta.
c) Ao chamar a desinformação de “arma de guerra”, o autor do texto nos autoriza a concluir que a língua pode ser usada como tal? Justifique sua resposta.
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1. a) Um vasto território plano lembra a superfície de um campo de futebol. A linha branca que corta o gramado reforça a semelhança com o campo. A árvore, sem nenhuma outra árvore ao seu lado, dá a impressão de algo completamente livre de vigilância, como um centroavante desmarcado.
b) Porque só alguém que esteja completamente obcecado por futebol pode fazer uma associação tão surpreendente. Quem tem ideia fixa em futebol vê o mundo sob o ponto de vista dessa ideia.
2. a) No trecho l. A palavra mas está criando uma relação de oposição entre as duas orações. Isso quer dizer que a presença das torcidas uniformizadas se opõe à prática de um bom espetáculo.
b) No trecho II. A conjunção pois introduz uma oração que confirma o que se disse anteriormente, colocando um argumento favorável ao que foi dito.
3. C
O texto cria correspondência entre as expressões “determinar de antemão”, “policiar a expressão livre” e “chancelar a censura”, permitindo depreender que o autor se posiciona contra a censura prévia; ao afirmar “Não se trata […] de procurar eximir”, ele dá a entender que não é favorável a isentar de responsabilidade os meios de comunicação.
4. a) Os dois inimigos que deveriam ser combatidos eram:
• os estrangeiros, que, com o controle econômico de São Paulo, pretendiam o mando político;
• os paulistas antigos, que, ajudando aqueles estrangeiros, queriam a independência do Estado de São Paulo.
b) Levar a opinião pública a aderir aos propósitos do “desinformador”.
c) Segundo o texto, sim; e esses resultados beneficiaram o Governo Provisório e favoreceram a mobilização da opinião pública contra os revolucionários.
5. a) Referem-se ao substantivo paulistas.
b) Levando em conta o contexto, essas qualificações são atribuídas aos paulistas não pelo autor, mas pelos agentes da campanha de desinformação. Logo no início do terceiro parágrafo, a expressão “acreditando combater” dá a entender que o que eles combatiam era produto de sua crença, e não da realidade dos fatos.
c) Sem dúvida. Na medida em que é um instrumento com o qual se forjam notícias inverídicas, a língua destina-se a mobilizar o interlocutor a agir segundo o querer daquele que pratica a desinformação.
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