A construção do parágrafo dissertativo

Já foi dito que, antes de redigir, é necessário planejar. E planejar envolve não só a seleção de ideias, mas a estruturação delas dentro de um texto, que será organizado em parágrafos. Portanto, é sobre essas unidades textuais (os parágrafos) que vamos falar agora.

De modo geral, um parágrafo-padrão está centrado numa ideia principal que, por sua vez, está circundada por ideias secundárias. Obviamente, dependendo do tema, do autor e do público a que se destina, podem-se encontrar as mais variadas estruturas de parágrafos. Essa concepção básica de parágrafo, no entanto, serve como modelo para nossas reflexões.

Observe este parágrafo, retirado do livro As formas do falso, de Walnice Nogueira Galvão (trata-se de um estudo sobre Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa):

Dá-se o nome de sertão a uma vasta e indefinida área do interior do Brasil, que abrange boa parte dos Estados de Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Alagoas, Paraíba, Maranhão, Goiás e Mato Grosso. É o núcleo central do país. Sua continuidade é dada mais pela forma econômica predominante, que é a pecuária extensiva, do que pelas características físicas, como tipo de solo, clima e vegetação. Embora uma das aparências do sertão possa ser radicalmente diferente de outra não muito distante – a caatinga seca ao lado de um luxuriante barranco de rio, o grande sertão rendilhado de suas veredas -, o conjunto delas forma o sertão, que não é uniforme, antes bastante diversificado.

GALVÃO, Walnice N. As formas do falso. São Paulo: Perspectiva, 1972. p. 25-6.

Desenvolvem-se, no parágrafo lido, uma ideia central: a caracterização do sertão e as ideias que gravitam em torno da ideia central: a localização geográfica, a economia predominante, as várias configurações do sertão, o conjunto formado.


Tomemos outro exemplo: a abertura do prefácio de Antônio Cândido para o volume 5 da série Para Gostar de Ler (Editora Ática):

A crônica não é um “gênero maior”. Não se imagina uma literatura feita de grandes cronistas, que lhe dessem o brilho universal dos grandes romancistas, dramaturgos e poetas. Nem se pensaria em atribuir o Prêmio Nobel a um cronista, por melhor que fosse. Portanto, parece mesmo que a crônica é um gênero menor.

Analisando-se a estrutura desse parágrafo, percebe-se uma ideia central -a crônica não é um “gênero maior” -, colocada numa frase clara, concisa. Essa frase serve de introdução ao parágrafo, apresentando a ideia-núcleo que será desenvolvida adiante. A essa ideia-núcleo, que apresenta o parágrafo, convencionou-se chamar de tópico frasal.

Em outros exemplos, é possível encontrar o tópico frasal colocado em duas ou até em três frases. Um tópico frasal claro, objetivo, consistente é meio caminho andado para a obtenção de um parágrafo bem redigido.

Voltando ao texto de Antônio Cândido, percebe-se que, logo após o tópico frasal, há dois períodos que são uma argumentação do tópico frasal: a crônica não confere dimensão universal à literatura; um cronista não ganharia o Prêmio Nobel. Finalmente, observamos que o último período do texto constitui uma conclusão, retomando o tópico frasal – a crônica é um gênero menor.