Exercícios sobre Simbolismo com gabarito

Neste artigo vamos conhecer um pouco mais sobre o período simbolista da Literatura. Através de exercícios de Literatura já com gabarito, veremos como esta estética influenciou o pensamento dos homens no final do século e leremos trechos selecionados dos principais autores do movimento.

>> Leia o texto de Eugênio de Castro para responder às questões 1 e 2.

Autobiografia

Vendo-me num beco sem saída, compreendi que era tempo de procurar uma nova senda ventilada e luminosa, que era necessário abrir para a paisagem, remoçada pelo vigor das novas colheitas, as janelas do Parnaso português, até então hermeticamente fechadas, e varrer dessas janelas as teias de aranha que comprometiam a limpidez dos seus vidros.
Providencialmente passaram sob os meus olhos alguns livros dos simbolistas franceses, recentemente publicados, de Verlaine e Moréas, de Mallarmé e Viêlê-Griffm, de Henri de Regnier e de Gustave Khan. Esses livros ensinaram-me milagrosamente a orientar as vagas e flutuantes aspirações do meu espírito e mostraram-me como a poesia portuguesa facilmente recobraria o seu vigor e a graça das suas grandes épocas, se alguém iniciasse nela um movimento idêntico ao francês, variando os ritmos e os motivos de inspiração, renovando o fatigado guarda-roupa das imagens, substituindo a expressão directa pelo símbolo e a expressão lineal dos parnasianos pela sugestão musicalmente vaga dos simbolistas.

CASTRO, Eugênio de. In: Antologia. Lisboa: IN/CM, 1987.

Senda: rumo, direção.


1.   Podemos perceber em todo o trecho aqui transcrito como se dá um momento de transição entre dois estilos literários. Como seria, com base no que diz o autor, o estilo dos parnasianos?

2.   Segundo Eugênio de Castro, como se caracteriza o novo momento literário?

>> Agora leia os poemas de Charles Baudelaire e Antônio Nobre para responder às questões de 3 a 5.

Texto 1

O cachimbo

Sou o cachimbo de um autor.
Vê-se, ao contemplar meu semblante
De cafre ou de abissínia errante,
Que muito fuma o meu senhor.
Quando ele está cheio de dor,
Sou como a choça fumegante
Onde a comida aguarda o instante
Em que regressa o lenhador.
Sua alma embalo docemente
Na rede azul e movediça
Que em minha boca o fogo atiça.
E entorno um bálsamo envolvente
Que ao coração lhe traz a calma
E lhe dá cura aos males da alma.

BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. 6. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

cafre: indivíduo de uma população africana banta, afim dos zulus, não muçulmana, do sudeste da África.
abissínia: região hoje denominada etiópia, na África.
choça: cabana rústica.
bálsamo: aroma agradável e penetrante, perfume.

Texto 2

O meu cachimbo

Ó meu cachimbo!  Amo-te imenso!
Tu, meu turíbulo sagrado!
Com que, Sr. Abade, incenso
A abadia do meu passado.

Fumo? E ocorre-me à lembrança
Todo esse tempo que lá vai,
Quando fumava, ainda criança,
Às escondidas de meu pai.

Vejo passar a minha vida,
Como num grande cosmorama:
Homem feito, pálida ermida,
Infante, pela mão da ama.

Por alta noite, às horas mortas,
Quando não se ouve pio, ou voz,
Fecho os meus livros, fecho as portas
Para falar contigo a sós.

E a noite perde-se em cavaco,
Na Torre de Anto, aonde eu moro!
Ali, metido no buraco,
Fumo e, a fumar, às vezes… choro.

Chorando (penso e não digo)
Os olhos fitos neste chão,
Que tu és leal, és meu amigo…
Os meus amigos onde estão?

Hoje, delícias no abandono!
Vivo na paz, vivo no limbo:
Os meus amigos são o Outono,
O mar e tu, ó meu cachimbo!

Ah! Quando for do meu enterro,
Quando partir gelado, enfim,
Nalgum caixão de mogno e ferro,
Quero que vás ao pé de mim.

Santa mulher que me tratares,
Quando em teus braços desfaleça,
Caso meus olhos não cerrares,
Embora! Que isto não te esqueça:

Coloca, sob a travesseira,
O meu cachimbo singular
E enche-o, solícita enfermeira,
Com Gold-Fly para eu fumar…

Como passar a noite, amigo!
No Hotel da Cova sem conforto?
Assim levando-te comigo,
Esquecer-me-ei de que estou morto…

NOBRE, Antônio. Só. Lisboa: Ulisseia, 1998. (Fragmento).

turíbulo: incensório, vaso em que se queima o incenso.
cosmorama: conjunto de vistas, quadros dos mais diversos países, ampliados por instrumentos ópticos.
ermida: pequena igreja ou capela erguida em lugar ermo, afastado.
cavaco: conversa.
limbo: estado de indecisão, incerteza, indefinição; ausência de memória, esquecimento.
travesseira: o mesmo que travesseiro.

3.   A leitura dos dois textos permite reconhecer algumas semelhanças.
►  Qual personagem que aparece mencionado nos dois poemas?
►  O eu lírico é o mesmo nos dois textos? Justifique sua resposta com base nos poemas.

4.   Qual é a relação entre o objeto mencionado nos dois poemas e seus “donos”? Essa relação é idêntica nos dois textos?

5.   A partir da descrição do eu lírico de cada um dos poemas, podemos dizer que os textos dialogam entre si? Justifique sua resposta.

>> Leia o poema a seguir para responder às questões de 6 a 10.

Ó Virgens que passais, ao Sol-poente,
Pelas estradas ermas, a cantar!
Eu quero ouvir uma canção ardente,
Que me transporte ao meu perdido Lar.

Cantai-me, nessa voz onipotente,
O Sol que tomba, aureolando o Mar,
A fartura da seara reluzente,
O vinho, a Graça, a formosura, o luar!

Cantai! cantai as límpidas cantigas!
Das ruínas do meu Lar desterrai
Todas aquelas ilusões antigas

Que eu vi morrer num sonho, como um ai…
Ó suaves e frescas raparigas,
Adormecei-me nessa voz… Cantai!

NOBRE, Antônio. In: MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa através dos textos. 29 ed. São Paulo: Cultrix,1997.

ermas: desertas.
onipotente: que pode tudo, que tem poder absoluto.
aureolar: envolver com uma auréola, coroar.
seara: campo de cereais, extensão de terra semeada, cultivada.

6.   Uma das características do simbolismo é um gosto pelo abstrato, pelo impalpável. Que recurso gráfico empregado no poema contribui para a produção desse efeito?

7.   Qual é o efeito que a canção produz no eu lírico?

8.  Além de expressar o desejo por uma canção, o poema em si também apresenta certa musicalidade. Transcreva um verso em que essa musicalidade seja evidente e nomeie o recurso sonoro empregado.

9.   O que o eu lírico pede para as Virgens cantarem em sua canção?

10.  Apesar de conter características simbolistas, o poema também apresenta alguns traços românticos. Quais são eles?


ENTENDA ALGUNS CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA LITERATURA


>> Leia o poema a seguir para responder às questões 11 e 12.

Branco e vermelho
A dor, forte e imprevista,
Ferindo-me, imprevista,
De branca e imprevista
Foi um deslumbramento,
Que me endoidou a vista,
Fez-me perder a vista,
Fez-me fugir a vista,
Num doce esvaímento.

Como um deserto imenso,
Branco deserto imenso,
Resplandecente deserto imenso,
Fez-se em redor de mim.
Todo o meu ser, suspenso,
Não sinto já, não penso,
Pairo na luz suspenso…
Que delícia sem fim!

Na inundação da luz
Banhando os céus a flux,
No êxtase da luz,
Vejo passar desfila
(seus pobres corpos nus
que a distância reduz,
amesquinha e reduz
no fundo da pupila)

Na areia imensa e plana
Ao longe a caravana
Sem fim, a caravana
Na linha do horizonte
Da enorme dor humana,
Da insigne dor humana…
A inútil dor humana!
Marcha, curvada a fronte.

Até o chão, curvados,
Exaustos e curvados,
Vão um a um, curvados,
Os seus magros perfis;
Escravos condenados,
No poente recortados,
Em negro recortados,
Magros, mesquinhos, vis.

A cada golpe tremem
Os que de medo tremem,
E as pálpebras me tremem
Quando o açoite vibra.
Estala! E apenas gemem,
Palidamente gemem,
A cada golpe gemem,
Que os desequilibra.

Sob o açoite caem,
A cada golpe caem,
Erguem-se logo.
Caem, Soergue-os o terror…
Até que enfim desmaiem,
Por uma vez desmaiem!
Ei-los que enfim se esvaem,
Vencida, enfim, a dor…

E ali fiquem serenos,
De costas e serenos.
Beije-os a luz, serenos,
Nas amplas frontes calmas.
O céus claros e amenos,
Doces jardins amenos,
Onde se sofre menos,
Onde dormem as almas!

A dor, deserto imenso,
Branco deserto imenso,
Resplandecente e imenso,
Foi um deslumbramento.
Todo o meu ser suspenso,
Não sinto já, não penso,
Pairo na luz, suspenso
Num doce esvaimento.

O morte, vem depressa,
Acorda, vem depressa,
Acode-me depressa,
Vem-me enxugar o suor,
Que o estertor começa.
Ê cumprir a promessa.
Já o sonho começa…
Tudo vermelho em flor…

PESSANHA, Camilo. Clepsidra. São Paulo: Ed. da Unicamp, 1994.

flux: em grande quantidade.
insigne: famosa, celebrada, conhecida.
estertor: respiração ruidosa típica dos moribundos.

11.   O poema de Camilo Pessanha descreve vários sentimentos que envolvem não só o eu lírico, mas também outras pessoas as quais ele mesmo descreve ao longo do poema. Identifique primeiramente os sentimentos que estão relacionados ao eu lírico propriamente dito.

12.  Agora aponte quem são os outros personagens que aparecem no poema e como são descritos pelo poeta.

13.   Releia com atenção o texto 1, trecho de “Branco e vermelho”, e compare com os versos de Castro Alves, texto 2.



Texto 1

A cada golpe tremem
Os que de medo tremem,
E as pálpebras me tremem
Quando o açoite vibra.
Estala! E apenas gemem,
Palidamente gemem,
A cada golpe gemem,
Que os desequilibra.

Sob o açoite caem,
A cada golpe caem,
Erguem-se logo. Caem,
Soergue-os o terror…

Texto 2

Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos… o chicote estala.
E voam mais e mais…
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!

ALVES, Castro. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997.

► É possível estabelecer uma relação entre os versos de Camilo Pessanha e os de castro Alves. Identifique nos textos os elementos que os aproximam, no que diz respeito ao tema abordado por cada um deles.

14.  Como você pôde perceber, o poema faz uso de determinados recursos linguísticos, sobretudo no que diz respeito às rimas, o que é típico do modo de composição simbolista. Procure demonstrar como esses recursos estilísticos contribuem na construção de determinadas sensações e significações no poema.

15.  Pensando no título “Branco e vermelho” e na leitura do poema que você acabou de executar, faça uma pequena relação das sensações que essas duas cores podem despertar. Na sua opinião, o que elas simbolizam? Ao vê-las, em que você pensa primeiro?

>> Texto para as questões de 16 a 20.

Ao longe os barcos de flores
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila,
— Perdida voz que de entre as mais se exila,
— Festões de som dissimulando a hora

Na orgia, ao longe, que em clarões cintila
E os lábios, branca, do carmim desflora…
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila.

E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,
Cauta, detém. Só modulada trila
A flauta flêbil… Quem há-de remi-la?
Quem sabe a dor que sem razão deplora?

Só, incessante, um som de flauta chora…

PESSANHA, Camilo. Clepsidra. São Paulo: Ed. da Unicamp, 1994.

16.  Que efeito a repetição dos versos “só, incessante, um som de flauta chora” e “Viúva, grácil, na escuridão tranquila”, somada ao uso das reticências causa no poema?

17.   Qual pode ser a relação entre o título do poema e seu conteúdo?

18.  Transcreva do poema uma sinestesia, recurso característico do Simbolismo.

19.  Cite um exemplo de aliteração presente no texto.

20. O poema sugere diversas imagens da solidão. Cite ao menos duas delas.

>> Leia o texto a seguir para responder às questões 21 e 22.

Cristais

Mais claro e fino do que as finas pratas
O som da tua voz deliciava…
Na dolência velada das sonatas
Como um perfume a tudo perfumava.
Era um som feito luz, eram volatas
Em lânguida espiral que iluminava,
Brancas sonoridades de cascatas…
Tanta harmonia melancolizava.
Filtros sutis de melodias, de ondas
De cantos volutuosos como rondas
De silfos leves, sensuais, lascivos…
Como que anseios invisíveis, mudos,
Da brancura das sedas e veludos,
Das virgindades, dos pudores vivos.

SOUZA, Cruz e. Poesia completa de Cruz e Sousa. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d.

dolência: aflição, dor, sofrimento.
volata: série de notas musicais rápidas, de tons rapidamente executados.
silfo: de acordo com a mitologia céltico-germânica, são seres sobrenaturais compostos dos mais puros elementos do ar (lugar onde eles vivem), dotados de asas e que se deslocam em voo leve.

21.   O que podemos dizer acerca da forma do poema de Cruz e Souza? Que figuras de linguagem e outros recursos linguísticos estão aqui presentes?

22.   Por que podemos dizer que as figuras de linguagem são importantes para alcançar os efeitos pretendidos pelos poetas simbolistas?

>> Leia o texto de Cruz e Sousa para responder às questões de 23 a 25.

Muito embora as estrelas do Infinito
Lá de cima me acenem carinhosas
E desça das esferas luminosas
A doce graça de um clarão bendito;
Embora o mar, como um revel proscrito,
Chame por mim nas vagas ondulosas
E o vento venha em cóleras medrosas
O meu destino proclamar num grito;
Neste mundo tão trágico, tamanho,
Como eu me sinto fundamente estranho
E o amor e tudo para mim avaro!…
Ah! Como eu sinto compungidamente,
Por entre tanto horror indiferente,
Um frio sepulcral de desamparo!

SOUZA, Cruz e. In: Poesia completa de Cruz e Sousa. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d.

revel: rebelde, esquivo.
proscrito: exilado, banido.
vagas: ondas. compungidamente: pesarosamente.

23. Caracterize o estado de espírito do eu lírico do poema. o título, “só!”, resume bem este estado de espírito? Explique.

24. Qual é a relação que se estabelece, no texto, entre o poeta e a natureza? Exemplifique.

25. Que característica simbolista podemos identificar no poema se considerarmos o estado de espírito do eu lírico em relação ao mundo exterior?

>> Agora leia o poema para responder às questões 26 e 27.

A ironia dos vermes

Eu imagino que és uma princesa
Morta na flor da castidade branca…
Que teu cortejo sepulcral arranca
Por tanta pompa espasmos de surpresa.

Que tu vais por um coche conduzida,
Por esquadrões flamívomos guardada,
Como carnal e virgem madrugada,
Bela das belas, sem mais sol, sem vida.

Que teu séquito é tal, tal a coorte,
Tal o sol dos brasões por toda a parte,
Que em vez da horrenda Morte suplantar-te
Crê-se que és tu que suplantaste a Morte.

Mas dos faustos mortais a régia trompa,
Os grandes ouropéis, a real Quermesse,
Ah! Tudo, tudo proclamar parece
Que hás de afinal apodrecer com pompa.

Como que foram feitos de luxúria
E gozo ideal teus funerais luxuosos
Para que os vermes, pouco escrupulosos,
Não te devorem com plebeia fúria.

Para que eles ao menos vendo as belas
Magnificências do teu corpo exausto
Mordam-te com cuidados e cautelas
Para o teu corpo apodrecer com fausto;

Para que possa apodrecer nas frias
Geleiras sepulcrais de esquecimentos,
Nos mais augustos apodrecimentos,
Entre constelações e pedrarias.

Mas ah! Quando ironia atroz, funérea,
Imaginária e cândida Princesa:
És igual a uma simples camponesa
Nos apodrecimentos da Matéria!

SOUZA, Cruz e. Poesia completa de Cruz e Sousa. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d.

espasmo: arroubo, êxtase, arrebatamento.
séquito: cortejo que acompanha uma pessoa; no caso do poema, trata-se de um cortejo fúnebre.
flamívomos: que expelem chamas.
fausto: feliz, ditoso, venturoso; grande pompa, luxo.
ouropel: brilho falso; esplendor aparente.
quermesse: por extensão de sentido, pode referir-se a qualquer feira animada ou ruidosa.

26.  Com base em uma leitura bastante cuidadosa, descreva a cena que o eu lírico apresenta no poema.

27.   Explique a relação entre o título e o conteúdo do poema de Cruz e Sousa.

» Agora leia o poema de Alphonsus de Guimaraens para responder às questões 28 a 30.

De Verlaine

Minha vida descansa
Num sonho sem lampejos:
Dormi, toda esperança,
Dormi, ó meus desejos!

Do mal, do bem transviada,
Perco toda a memória.
Eu não vejo mais nada…
Oh a triste, a triste história!

Eu sou uma redoiça
Que leva mão fagueira
Em silêncio baloiça
Da sepultura à beira…

GUIMARAENS, Alphonsus de. In: GUIMARAENS FILHO, Alphonsus de (Org.). Poesia completa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001.

lampejo: brilho momentâneo, sentimento intenso, mas de pouca duração.
redoiça: corda fixada pelas extremidades, às vezes provida de assento; balanço.
fagueira: que afaga, meiga, carinhosa.

28.  Procure descrever, brevemente, como o eu lírico do poema comporta-se diante das coisas ao seu redor.

29.  Na última estrofe o eu lírico constrói uma cena bastante interessante e que pode significar sua oscilação entre a vida e a morte. Explique de que modo isso ocorre.

30.  A evocação à morte era uma característica bastante comum em outro momento literário que você já estudou.
►  Que movimento é esse?
►  Podemos dizer que, para os simbolistas, o contexto histórico finissecular contribui para uma visão mais pessimista do mundo. Explique essa afirmação, relacionando-a à leitura do poema de Alphonsus de Guimaraens.

>> Leia o poema de Alphonsus de Guimaraens para responder às questões 31 e 32.

Segues para a vida tão contente,
Como se caminhasses para um trono.
A tua alma, como um solar sem dono,
Vive de sonhos no teu corpo doente.

Ah! Bem sabes que o sol está no poente,
Que o roseiral murchece no abandono…
Que importa a primavera? Veio o outono
Bendizer-te as tristezas de vidente.

Cerra os olhos suavíssimos e mira
Os dias que se foram, no letargo
Que de ti se aproxima em voos lentos…

Feliz de quem na paz eterna expira…
Solta as velas à nave. Eis o mar largo.
Eis a bonança. Levem-te bons ventos!

GUIMARAENS, Alphonsus de. In: GUIMARAENS FILHO, Alphonsus de (Org.). Poesia completa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001.

murchecer: (= emurchecer) tornar-se murcho, perder a vitalidade.
letargo: incapacidade de reagir e de expressar emoções; apatia, inércia.

31.   Podemos perceber no poema de Alphonsus de Guimaraens algumas expressões que indicam que a pessoa a quem ele se refere no texto está encaminhando-se para a morte. Destaque do texto alguns exemplos deste tipo de recurso.

32.   Na última estrofe o eu lírico diz: “feliz de quem na paz eterna expira…/solta as velas à nave. eis o mar largo./eis a bonança. Levem-te bons ventos!” Que tipo de leitura sobre a morte há neste trecho? Ela é considerada um aspecto negativo ou positivo na vida do ser humano? Por quê?

>> Leia o texto a seguir para responder às questões de 33 a 36.

XIX

Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.

As estrelas dirão: — “Ai! nada somos,
Pois ela se morreu, silente e fria…”
E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.

A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.

Os meus sonhos de amor serão defuntos…
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: — “Por que não vieram juntos?”

GUIMARAENS, Alphonsus de. In: GUIMARAENS FILHO, Alphonsus de (Org.). Poesia completa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001.

33.   Qual é o tema central do poema?

34.  A religiosidade é uma característica da poesia simbolista, e bastante explorada por Alphonsus de Guimaraens. Em que passagem esse traço fica evidente?

35.  De que estratégia se vale o eu lírico para desenvolver o tema no texto?

36.  A palavra “pomos” aparece no poema com dois sentidos diferentes. Quais são esses sentidos?

>> Leia o poema a seguir para responder às questões de 37 a 39.

Canção do outono

Os longos sons
Dos violões,
pelo outono,
Me enchem de dor
E de um languor
De abandono.
E choro, quando
Ouço, ofegando,
Bater a hora,
Lembrando os dias
E as alegrias
E ais de outrora.
E vou-me ao vento
Que, num tormento,
Me transporta
De cá pr’a lá,
Como faz à
Folha morta.

VERLAINE, Paul. In: Festas galantes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983.

37.   A presença da música na poesia de Verlaine é bastante recorrente. No poema aqui transcrito, que tipo de sensação o som dos violões produz no eu lírico?

38.  O outono, além de representar uma estação do ano, pode significar, por extensão de sentido, o período da vida em que o homem caminha para a velhice. Podemos dizer que este sentido está presente no poema? explique.

39.  A última estrofe descreve o estado do eu lírico diante dos sentimentos nele despertados naquele momento. Descreva, com suas próprias palavras, esse estado.

>> Leia o texto a seguir para responder às questões de 40 a 43.

Arte poética

A Música antes de tudo,
E para isso prefere o Ímpar
Mais vago e mais solúvel no ar,
Sem nada nele que pese ou que pouse

Ê preciso também que não vás
Escolher tuas palavras sem alguma ambiguidade:
Não há nada mais caro do que a canção cinzenta
Onde o Indeciso ao Preciso se une.

Toma a eloquência e torce-lhe o pescoço!
Farás muito bem, com um pouco de energia,
Em tornar a Rima mais sensata.
Se não a vigiarmos, até onde ela irá?

Oh, o que dizer dos danos da Rima?
Que criança surda ou que negro louco
Forjou-nos essa joia de um vintém
Que soa oca e falsa sob a lima?

VERLAINE, Paul. In: GOMES, Álvaro Cardoso. A estética simbolista: — textos doutrinários comentados.
2. ed. São Paulo: Atlas, 1994. (Fragmento).

40.  Na primeira estrofe, há referência a duas das principais características do simbolismo. Quais são elas?

41.  Explique o sentido da expressão “canção cinzenta” (segunda estrofe), tendo em vista o contexto do simbolismo.

42.  O poema afirma, na segunda estrofe, que a poesia deve ser o lugar em que o indeciso se une ao Preciso. Em que espaço pode se situar a precisão da poesia simbolista?

43.  Transcreva uma passagem em que se encontra uma crítica aos excessos formais do Parnasianismo.

Gabarito dos exercícios sobre Simbolismo

1.     Há uma descrição que deixa entrever o movimento parnasiano como algo velho e já ultrapassado. As “janelas do Parnaso português”, encontrando-se “hermeticamente fechadas”, deveriam ser abertas, a fim de iluminar o cenário poético daquele país e terminar de vez com as “teias de aranha que comprometiam os seus vidros”.

2.    Aderir ao simbolismo representaria para a poesia portuguesa, na visão de eugênio de castro, “recobrar seu vigor e a graça de suas grandes épocas.” Um novo movimento literário significaria também uma renovação no “fatigado guarda-roupa das imagens, substituindo a expressão directa pelo símbolo e a expressão lineal dos parnasianos pela sugestão musicalmente vaga dos simbolistas”.

3.    ► O cachimbo.
► O eu lírico, no caso do poema de Baudelaire, é o próprio cachimbo (“eu sou o cachimbo de um autor”); já no poema de António Nobre, é o dono do cachimbo quem se dirige ao objeto (“Ó meu cachimbo! Amo-te imenso!”).

4.    Em ambos os textos o cachimbo exerce uma função de calmante, de amigo inseparável de seu dono. o de Baudelaire afirma que, quando seu dono “está cheio de dor”, ele se transforma em uma “choça fumegante”, pois seu senhor usa-o com frequência, fazendo-o expelir muita fumaça. Já o eu lírico de Antônio Nobre chega ao extremo de querer que seu cachimbo o acompanhe até o caixão. é interessante notar também, no poema de Antônio Nobre, que o cachimbo o acompanha desde a infância e é o único amigo que lhe resta agora que está próximo da morte.

5.   Sim, os “depoimentos” contidos em cada um dos textos se complementam, pois o primeiro, em que o cachimbo é o eu lírico que se pronuncia, descreve os hábitos de seu dono, mostrando de que modo ele o acalma e o distrai. No poema de António Nobre, por sua vez, é o dono do cachimbo quem fala e suas palavras confirmam a “fidelidade” e a “amizade” que o dono do cachimbo sente por tal objeto, do mesmo modo como o descreve o próprio cachimbo no poema de Baudelaire.

6.   O uso das maiúsculas alegorizantes (Virgens, sol, lar, mar…), que mostram que a referência não é à coisa em si, mas ao seu conceito genérico.

7.    Ele pode ser transportado a seu “perdido lar”, pela imaginação.

8.   “Das ruínas do meu lar desterrai”. Nota-se a aliteração (r) e a assonância (a).

9.    O sol, o campo, o vinho, a Graça, a formosura e o luar.

10.  O desejo de evasão, a recusa da realidade e a tentativa de retomada do passado, da terra de origem, são características trabalhadas pelo Romantismo.

11.   O eu lírico é tomado de uma “dor imprevista” que o faz desfalecer (“fugir a vista”). Neste desfalecimento ele tem uma visão na qual homens, provavelmente escravos, estão caminhando no deserto, enquanto são maltratados e espancados. No final da visão, ainda tomado pela dor, o eu lírico evoca a morte para que ela o livre de seu sofrimento.

12.   Fruto de uma espécie de visão do eu lírico, aparece uma caravana de homens que caminham no deserto “exaustos” e “curvados”. São “escravos condenados” que apanham (“a cada golpe tremem”) e que, após tamanhos maus-tratos, também desfalecem (como ocorre com o eu lírico, após ser tomado de uma forte dor), banhados pelos “céus claros e amenos”, “onde se sofre menos/onde dormem as almas”, ou seja, pode ser que tenham mesmo morrido e, por isso, ficaram livres da dor (do cativeiro e dos golpes que recebiam enquanto caminhavam).

13.   O tema da escravidão, na literatura brasileira, é amplamente discutido durante o romantismo na obra de castro Alves. O poema de Camilo Pessanha guarda muitas semelhanças com o texto O navio negreiro do poeta brasileiro na medida em que ambos descrevem as atrocidades que estão sendo cometidas contra os escravos, mostrando o sofrimento e a dor que aqueles homens sentem e as humilhações a que eles são submetidos.

14.  O efeito linguístico mais recorrente ao longo do poema é a repetição de palavras em versos seguidos, acompanhadas de outras palavras de sons semelhantes, produzindo rimas. Na primeira estrofe, por exemplo, o poeta repete nos três primeiros versos a palavra imprevista; no quarto verso usa a palavra deslumbramento, que será rimada com a palavra esvaímento, contida no oitavo verso. No final dos versos 5, 6 e 7 há a repetição da palavra vista, que, por sua vez, rima com imprevista, contida nos três primeiros versos. Esse sistema é regular em praticamente todo o texto e exerce um papel não somente sonoro, mas também enfático ao dar, pela repetição, relevo aos sentimentos e sensações descritos no poema.

15.   Nessa questão, a resposta do aluno deve ser pessoal. Espera-se, com esse exercício, que o estudante, a partir de uma reflexão sobre os significados do branco e do vermelho, adquira certa sensibilidade acerca dos sentimentos e sensações que podem ser descritos por meio das cores. No poema, especificamente, o branco e suas variantes (a “luz”, o “claro”, a areia branca do deserto, etc.) remetem o leitor primeiro a um estado de cegueira, como ocorre com o eu lírico (muita luz nos faz “perder a vista”), mais propriamente ligado ao desfalecimento e, portanto, também à dor sentida pelo eu lírico. Ao mesmo tempo, os escravos, quando desfalecem após os golpes, são inundados pela mesma luz, o que indica que, mais do que o desfalecimento, essa luz pode significar a libertação de um sofrimento (a morte, talvez, mas na sua realização espiritual). A morte, enquanto realização material, no entanto (morte do corpo propriamente dita), aparece ligada ao vermelho no verso final quando o eu lírico diz, evocando o descanso eterno, “Já o sonho começa/tudo vermelho em flor”.

16.  A repetição dos versos e as reticências acentuam a atmosfera vaga e indefinida do poema.

17.  A imagem do barco de flores parece ser sugerida pelo som da flauta.

18.  “Festões de sons” (visão + audição)

19.   “flauta flébil”, “só, incessante, um som de flauta chora”

20.   “só”, “viúva”, “escuridão tranquila”

21.    O autor faz uso das sinestesias quando atribui à voz de sua amada o ato de “perfumar” o ambiente; quando diz que o som daquela voz era “feito luz” e que sua sonoridade era branca. Está também presente a aliteração (do som “s”) no verso “de silfos leves, sensuais, lascivos…”, recurso linguístico-poético que contribui para o tema central do poema: a voz e sua musicalidade.

22.   A construção de imagens sugestivas possibilitadas pelas sinestesias e aliterações procura evocar sensações e lembranças de um modo mais efetivo. É uma forma de explorar o mundo com todos os sentidos, percebendo na voz, nesse caso, não apenas seu som, mas seu cheiro e sua cor.

23.   O eu lírico sente-se estranho, indiferente e desamparado diante das coisas que o rodeiam. O título “só!” resume bem o estado de espírito deste eu lírico que, deslocado no mundo, sente-se como se ninguém o acompanhasse.

24.   Aparece claramente no poema a ressalva que o eu lírico faz sobre a natureza: as estrelas brilham para ele (“muito embora as estrelas do Infinito/Lá de cima me acenem carinhosas”), o mar, o vento estão ao seu lado e clamando por ele (“embora o mar, como um revel proscrito,/chame por mim nas vagas ondulosas/e o vento venha em cóleras medrosas/o meu destino proclamar num grito;”), no entanto, só a companhia destes elementos não é suficiente para que o poeta sinta-se inserido em um mundo que ele considera trágico, sem amor e pouco acolhedor.

25.  Este sentimento de voltar-se para si mesmo, rejeitando o mundo à sua volta, é característico da poesia simbolista. Os poetas, tomados de grande subjetividade e sentindo-se “perdidos em meio à multidão”, buscam outras sensações que não aquelas que são perceptíveis na realidade visível. A prova disso, neste poema, é o diálogo que o poeta parece manter com a natureza e seus elementos, contato que, no entanto, é impossível com a civilização.

26. O eu lírico descreve detalhadamente as pompas e luxos do sepultamento de uma princesa. A descrição da cena do cortejo fúnebre – executado de forma grandiosa – culmina, no entanto, com a inevitável constatação de que, embora cercada pelo luxo na hora do enterro, a princesa será, tal como uma “plebeia”, devorada pelos vermes.

27.   A “ironia dos vermes” apresentada no título seria justamente o descompasso entre a pompa do enterro e o destino ordinário que terá o corpo da princesa ao ser devorado pelos vermes. Ou seja, de nada adianta o cortejo diferenciado: as princesas e as plebeias tornam-se iguais na morte.

28. o eu lírico parece cansado de viver. Não há em sua vida mais brilho nem emoção (ela é “sonho sem lampejos”), ele não tem mais memória das coisas e não vê mais nada ao seu redor. Em suma, o eu lírico define-se como um “balanço” que está à beira da sepultura.

29.   A imagem é a seguinte: o eu lírico estaria balançando delicadamente e silenciosamente à beira de uma sepultura. O vaivém proposto pelo balanço ora aproxima o eu lírico da vida e ora – quando mais perto da sepultura – o aproxima da morte.

30.   ► O Romantismo.
► É comum na história que, em momentos de transição entre os séculos e entre os milênios, algumas pessoas entreguem-se a um sentimento de medo e de uma sensação de fim dos tempos. Esse momento de crise repete-se no final do século XIX. O poeta simbolista, voltado para si mesmo e para suas próprias emoções, não apresenta qualquer apego à vida e sua oscilação entre morrer e continuar sobre a terra é uma das marcas desse desapego que o poema aqui exemplifica de forma bastante clara.

31.    Podem ser entendidas como referências à morte futura da personagem as expressões: “sol no poente”, “roseiral que murchece”, “outono” e “na paz eterna expira”.

32.   A morte é aqui retratada a partir de uma visão positiva, afinal, deve ser considerado “feliz” aquele que “na paz eterna expira”. A morte é vista como libertação e comparada a um “mar largo” e à “bonança”, na medida em que, para o simbolismo, o mundo espiritual possui um papel muito importante na vida do ser humano, maior do que o mundo material em que vivemos.

33.   O tema central, típico da poesia de Alphonsus de Guimaraens, é a morte da mulher amada.

34.   No verso “e os arcanjos dirão no azul ao vê-la”, a religiosidade simbolista se evidencia.

35.  O eu lírico mostra que a dor da perda da amada é sentida por todas as coisas: os elementos da natureza (cinamomos, laranjais, estrelas, lua) lamentam a morte dela assim como o eu lírico. A esse recurso damos o nome de personificação.

36.   O primeiro sentido é o de “frutos”, como substantivo. usada depois como verbo, ganha o sentido de “colocamos”.

37.   Segundo o eu lírico: “os longos sons/dos violões,/pelo outono,/me enchem de dor e de um languor de abandono.”

38.  Sim. Na segunda estrofe, o eu lírico diz chorar quando ouve “bater as horas”; essa menção às horas significa, no poema, uma referência à passagem do tempo, demonstrando uma preocupação evidente com a passagem dos anos, ou seja, com o envelhecimento. Como o poeta recorre, a seguir, à imagem de uma folha morta para descrever a si mesmo — a velhice torna as pessoas indiferentes e desinteressadas pela vida como uma folha morta levada pelo vento —, podemos dizer que, de fato, o poema fala da velhice à qual se seguirá a morte.

39.   Na estrofe, o eu lírico – como folha morta, ou seja, já chegada ao outono e, portanto, envelhecida – é carregado sem direção pelo vento e isso o atormenta porque ele deixa de ter em suas mãos as rédeas de sua própria vida. Ao se entregar ao vento, o poeta parece desistir da existência, uma vez que, velho, pode morrer a qualquer momento.

40.  A apreciação do poder sugestivo da música e o gosto pelas coisas vagas.

41.   O termo “canção cinzenta” sugere uma poesia mais vaga e imprecisa, porque o cinza é um tom entre o branco e o preto. Assim como a cor, a poesia não deve nomear nada com clareza ou objetividade: deve situar-se entre “o indeciso e o Preciso”.

42.  A poesia simbolista caracteriza-se por tratar de temas vagos em uma linguagem precisa, ou seja, o rigor formal não é abandonado. é essa a precisão citada no poema.

43.  A última estrofe, por exemplo, constitui uma crítica ao Parnasianismo, julgado como “falso” e oco.