➡️ Tudo Sobre Intertextualidade – exercícios com gabarito

As pessoas habituadas à leitura sabem que é comum a prática de um texto reportar-se a outro, citando passagens maiores ou menores deste.

A esse procedimento dá-se o nome de intertextualidade ou de relações intertextuais.

Não se trata de plágio, mas de um recurso muito usual, por meio do qual um texto retoma fragmentos do outro para estabelecer com ele dois tipos básicos de relação:

• de acordo ou compatibilidade

• de desacordo ou incompatibilidade.


Interessante é saber que, inicialmente temos duas divisões. São elas:

intertextualidade explícita

  • é facilmente identificada pelos leitores;
  • estabelece uma relação direta com o texto fonte;
  • apresenta elementos que identificam o texto fonte;
  • não exige que haja dedução por parte do leitor;
  • apenas apela à compreensão do conteúdos.

intertextualidade implícita

  • não é facilmente identificada pelos leitores;
  • não estabelece uma relação direta com o texto fonte;
  • não apresenta elementos que identificam o texto fonte;
  • exige que haja dedução, inferência, atenção e análise por parte dos leitores;
  • exige que os leitores recorram a conhecimentos prévios para a compreensão do conteúdo.

Pensando agora nos tipos de intertextualidade mais comuns, temos:

Por meio de citação demarcada

Nesse caso, o enunciador do texto declara explicitamente que está fazendo citação de outro e demarca, por indicadores gramaticais, os seus limites. Quando se trata de um texto de natureza científica ou acadêmica, a praxe manda indicar a fonte com precisão.

Por meio de citação não demarcada

Muito comum em textos de natureza literária, esse tipo de citação se faz sem anúncio e sem marcadores gramaticais. Tudo se passa como se fizesse parte do texto que está sendo lido. O enunciador confia à memória do leitor (ou ouvinte) a percepção de que se trata de citação e a identificação da sua procedência. Cria um pacto de cumplicidade entre o leitor e o ouvinte.

Por meio de imitação de estilo

Um texto pode fazer referência a outro sem citar materialmente as palavras ou quaisquer signos do outro texto. A relação intertextual, no caso, é estabelecida pela imitação de traços de estilo típicos do texto citado.

Além desses, considero também intertextualidade o uso da paráfrase, da paródia, da alusão e o hipertexto e outros.

Quais são os tipos de intertextualidade

Paráfrase

Na paráfrase, a intertextualidade incide na temática. Há uma reafirmação das ideias do texto fonte. É utilizado um tema previamente explorado por outro autor na criação de um novo texto com estrutura e estilo próprios.

Exemplo de paráfrase:

“Minha terra tem palmeiras / onde canta o sabiá…” (Canção do exílio, Gonçalves Dias)
“Moro num país tropical / abençoado por Deus / e bonito por natureza…” (País Tropical, Jorge Ben Jor)

Paródia

Na paródia, ocorre a subversão da temática do texto fonte, alterando e contrariando o que foi expresso anteriormente de forma irônica e satírica. Visa a crítica e a reflexão, promovidas através de um momento de fruição e jocosidade.

Exemplo de paródia:

Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé. (ditado popular)
Se Maomé não vai à montanha, a montanha vaia Maomé. (paródia)

Referência ou alusão

Na referência ou alusão, é feita a sugestão ou insinuação de um acontecimento, personalidade, personagem, local, obra,… Não é apresentada a intertextualidade de forma direta, mas sim através da apresentação de características simbólicas.

Exemplo de referência ou alusão:

A mais bonita de todas era sem dúvida Helena – a minha filha e não a outra.
(Alusão a Helena de Troia, a mulher mais bonita do mundo)

Citação

Na citação, ocorre uma intertextualidade direta, havendo a reprodução de parte do texto fonte. Há uma transcrição das palavras de outro autor, devidamente destacada com aspas e com a identificação desse autor. A citação visa conferir credibilidade ao novo texto.

Exemplo de citação:

Segundo Bechara (2015, p.276), “o verbo se diz pronominal quando o pronome oblíquo se refere ao pronome reto”.

Epígrafe

Na epígrafe, um autor utiliza uma passagem de um texto fonte para iniciar um novo texto, estabelecendo uma relação com essa passagem na criação da nova criação. É muito utilizada em trabalhos acadêmicos, atuando como um pensamento que serve de base à obra.

Exemplo de epígrafe:

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.” (Paulo Freire)

Pastiche

No pastiche, há a imitação direta do estilo de outros autores, mesclando esses diversos estilos numa única obra. Aparece como uma criação independente, sem o intuito de criticar ou satirizar. O pastiche é muito utilizado em músicas e imagens.

Exemplo de pastiche:

“Quis gravar “amor”
no tronco de um velho freixo:
“Marília”, escrevi.”
(Manuel Bandeira)

Tradução

A tradução é a passagem de um texto de uma língua estrangeira para a língua nativa de um determinado país. É considerada uma intertextualidade por haver diferentes interpretações e pela possibilidade de uso de diferentes expressões na adequação à realidade da nova língua.

Exemplos de tradução:

Nós amamos com um amor que era mais do que amor.
“We loved with a love that was more than love.” (Edgar Allan Poe)

Exercícios de intertextualidade com gabarito

1. No volume sobre Gonçalves Dias, da coleção Nossos Clássicos, da Editora Agir, preparado pelo poeta Manuel Bandeira, o poema “Canção do Exílio” vem precedido de uma epígrafe em alemão, traduzida pelo próprio Bandeira em nota de rodapé. O próprio poema Canção do Exílio, tão parafraseado e explorado intertextualmente, começa com uma citação. Vamos transcrever o poema inteiro com a epígrafe e sua tradução.

Canção do exílio

Kennst du das Land, wo die Citronen Im dunkein Laub die Gold-Orangen glühn,
Kennst du es wohl?- Dahin, dahin!
Mõchfich… ziehnP

Goethe

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite -Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

(*) Citação incompleta da primeira estrofe da balada Mignon “Conheces o país onde florescem as laranjeiras? Ardem, na escura fronde os frutos de ouro… Conhecê-lo? Para lá, para lá, quisera eu ir!”

a) Manuel Bandeira traduz, em nota de rodapé, a citação em alemão feita por Gonçalves Dias. O efeito de sentido seria o mesmo se a citação já viesse traduzida na epígrafe?

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Não. O sentido poderia ser o mesmo, mas o efeito de sentido seria outro. A citação em alemão cria uma aura de certa magia, dá maior credibilidade à edição do poema, cria a impressão de verdade, de que se trata de uma versão do poema que merece respeito. Além disso, Inscreve o poema de Gonçalves Dias dentro de uma concepção de arte e de literatura mais ampla, de dimensões internacionais.

b) O poeta traduz o alemão, mas não dá nenhuma nota sobre Goethe. Por que omite informações sobre o autor da epígrafe?

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Porque se trata de um dos maiores poetas da humanidade e, em vista dessa notoriedade, o autor do poema supõe que o leitor o conheça e, caso não, que procure conhecê-lo, dada a sua importância no cenário da literatura mundial.

c) Entre a citação contida na epígrafe e o texto de Gonçalves Dias existe uma relação de acordo ou desacordo? Justifique a sua resposta.

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A relação é de total acordo. Primeiro, pelo tema de exaltação da natureza; segundo, pelo amor à pátria; terceiro, pelo tom altamente emotivo e sentimental manifesto pela nostalgia da pátria.