Como fazer uma narração – Passo a passo
As férias acabando e você voltando às aulas. O professor de Português entra na sala e logo dia: vamos fazer uma redação sobre as férias. Acho que muitos aqui já passaram por uma situação como essa. Você e a folha em branco. Como começar? O que colocar? Como escolher o que você vai tirar se tanta coisa legal aconteceu. Escrever uma redação pode ser muito difícil para quem não sabe o caminho das pedras.
Existe diferença entre narrar e relatar?
Narrar é o mesmo que relatar? Se narrar é contar algo, é preciso levar em consideração que o homem sempre quis contar histórias. Tanto nas novelas televisivas quanto numa parede de pedra em Altamira existem fatos que o narrador quis legar para a futuridade. Num quadro, nas histórias em quadrinhos, numa fotografia familiar antiga, na letra de uma música, em uma simples piada, nas páginas policiais, lá está o legado humano: a história, uma história, a recriação de toda a realidade. A narrativa, como sempre falo para meus alunos, pressupõe suspende, tensão, desejo de saber o que virá adiante. Relatar é simplesmente elencar os acontecimentos sem a preocupação de prender o leitor ao enredo.
Como fazer um bom texto narrativo?
O ensaísta inglês Edmund Forster, teórico da literatura, em seu Aspectos do Romance, garante que narrar é uma atividade atávica, que todo homem é um guardador de histórias, um criador de narrativas. Quem nunca ouviu falar em Sherazade que conseguiu safar-se da morte por degolamento porque sabia contar lindas histórias e, assim, fez com que o sultão a livrasse da sentença que aplicava às outras mulheres do harém e, admirando-a, fez dela sua esposa? Quem nunca ouviu falar do Decameron, de Bocaccio, histórias contadas entre si por um grupo de jovens que se protegiam da peste, isolados num castelo, esperando que a praga passasse e pudessem voltar para seus pais?
Narrar é reinventar o mundo, é recriar a vida, é tentar ser uma espécie de Deus criador de destinos.
Toda narrativa pressupõe quatro elementos básicos: personagem, tempo, ação e espaço. Não existe narrativa sem esses quatro componentes. No próximo capítulo, vamos estudá-los um a um. Observe agora de que se compõe a estrutura narrativa.
A estrutura narrativa
Se tomarmos em consideração o romance, a novela ou o conto, o enredo terá de desenvolver-se da seguinte forma:
- Sequência inicial (ou Exposição): É quando há uma multiplicidade de situações ainda não delineadas, criaturas que são vistas individualmente, ambientes que formam apenas um pano de fundo.
- Desenvolvimento narrativo: Decorre do encadeamento de feitos, ações. Os “destinos” das personagens se entrelaçam, aproximando-as, distanciando-as: as complicações narrativas encadeiam-se lentamente, o leitor é levado a conhecer o que propõe o texto.
- Desfecho ou desenlace: É a conclusão, o “arremate” do texto. É o fim da narrativa.
É preciso entender que a tripartição acima pode ser alterada de acordo com a disposição que o narrador dá à temporalidade. Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, por exemplo, a narrativa começa no ponto mais alto: o enterro do narrador, ponto de partida para que ele, “do outro lado da existência”, inicie a narração, voltando à sequência inicial através de “flash-backs”.