Atividade de interpretação de textos ➜ Gritos

A interpretação de texto abarca a leitura e a compreensão de textos escritos. É uma tarefa que para ser bem executada demanda conhecimento sobre vários assuntos como Significado de Palavras, Literatura e Semântica. Aqui em nosso site apresentamos um enorme arquivo de exercícios de interpretação com gabarito. Você pode encontrar todos eles clicando aqui ou fazendo uma busca por exercícios de interpretação de textos com gabarito aqui na barra superior do site.

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Atividade de interpretação de textos

GRITOS DE INDEPENDÊNCIA

Comemora-se a independência do Brasil. Consta que não houve sangue, apenas o grito do Ipiranga, que marcou a ruptura com a tutela portuguesa, mantendo no poder o português D. Pedro I, que se proclamou imperador    do   Brasil,   mas   terminou   seus   dias   como   duque   de Bragança e figura, na relação dinástica, como o 28° rei de Portugal. Como se vê, na passarela da história, o samba não é o do crioulo doido.

Entre o fato e a versão do fato, a história oficial tende à segunda. Ainda hoje se discute se o grito decorreu do sonho de uma pátria independente ou da ambição de um império tropical. Ficou o grito parado no ar, expresso nos rostos contorcidos das figuras de Portinari, no romanceiro de Cecília Meireles, na poesia agônica de Chico Burque, no coração desolado das mães brasileiras que enterram, por ano, cerca de 300 mil recém-nascidos, precocemente tragados pelos recursos que faltam à área social. O número só não é maior graças ao voluntariado da Pastoral da Criança, monitorada pela doutora Zilda Arns.

O Brasil, pátria vegetal, ostenta o semblante de uma cordialidade renegada por sua história. Sob o grito da independência ressoam os dos índios trucidados pela empresa colonizadora, agora restaurada pela assepsia     étnica   proposta    pelos     integracionistas      que     julgam  as reservas indígenas privilégio nababesco. Ecoam também os gritos das vítimas indefesas de entradas e bandeiras, Fernão Dias sacrificando o próprio filho em troca de um punhado de pedras preciosas, bandeirantes travestidos de heróis da pátria pelo relato histórico dos brancos, versão barroca do esquadrão da morte rural,  diriam   os   índios   se   figurassem  como autores em nossa historiografia.

Abafam-se, em vão, os gritos arrancados à chibata dos negros arrastados de além-mar, sem contar as revoltas populares que minam o mito de uma pacífica abnegação que só existe no ufanismo de uma elite que se perfuma quando vai à caça.

Pátria armada de preconceitos arraigados, casa-grande que traça os limites intransponíveis da senzala, na pendular política de períodos autoritários alternados com períodos de democracia tutelar, já que, neste país, a coisa pública é negócio privado. índios, negros, mulheres, lavradores e operários não merecem a cidadania, reza a prática daqueles que sequer se envergonham de serem compatriotas de 50 milhões de pessoas que não dispõem de R$ 80 mensais para adquirir a cesta básica.

À galera, as tripas, marca indelével em nossa culinária, como a feijoada. Privatizam-se empresas e sonhos, valores e sentimentos, convocando intelectuais de aparência progressista para dar um toque de modernidade aos velhos e permanentes projetos da oligarquia. Vale tudo frente ao horror de um Brasil sujeito a reformas estruturais. Os que querem governar a sociedade não suportam os que querem governar com a sociedade.

Destroçada   e   endividada,   a   pátria   navega   a    reboque    do receituário neoliberal, que dilata a favelização, o desemprego, o poder paralelo do narcotráfico, a concentração de renda. Se o salário não paga a dívida, a vida parece não valer um salário. No Brasil, os hospitais estão : doentes, a saúde encontra-se em estado terminal, a escola gazeteia, o sistema previdenciário associa-se ao funerário e a esperança se reduz a um novo par de tênis, um emprego qualquer, alçar a fantasia pelo consolo eletrônico das telenovelas.

Amanhecia em Copacabana quando Antônio Maria gritou: “Não sei por onde vou, mas sei que não vou por aí”. Não vou pelas receitas monetaristas que salvam o Tesouro oficial e apressam a morte dos pobres.

Vou com aqueles que sempre denunciam a injustiça, testemunham a ética na política, agem com escrúpulos, defendem os direitos indígenas, repudiam todas as formas de preconceitos, promovem campanhas de combate à fome, administram recursos públicos com probidade e lutam por uma nova política econômica. Vou com aqueles   que, esta semana, estarão mobilizados no Grito dos Excluídos, promovido pela CNBB, em parceria com entidades e movimentos populares. Nenhum país será independente se, primeiro, não o forem aqueles que o governam.

(Frei Beto, no Jornal do Brasil, 3/9/01)

1) Os sentimentos que melhor caracterizam o estado de espírito do autor são:

a) ódio e desequilíbrio

b) medo e pessimismo

c) insegurança e descontrole

d) revolta e angústia

e) apatia e resignação

2) Para o autor, a história do Brasil é apresentada aos brasileiros:

a) de forma realista

b) com poucos detalhes

c) com preconceito

d) cortada

e) mascarada

3) O trecho que justifica a resposta ao item anterior é:

a) “Comemora-se a independência do Brasil.”

b) “À galera, as tripas, marca indelével em nossa culinária, como a feijoada.”

c) “índios, negros, mulheres, lavradores e operários não merecem a cidadania…”

d) “Entre o fato e a versão do fato, a história oficial tende à segunda.”

e) “O número só não é maior graças ao voluntariado da Pastoral da Criança.”

4) O autor duvida:

a) do futuro do Brasil

b) dos artistas brasileiros

c) da independência do Brasil

d) das revoltas populares

e) de Antônio Maria

5) “Os que querem governar a sociedade não suportam os que querem governar com a sociedade.” Esse trecho sugere a dicotomia:

a) governo militar / governo civil

b) comunismo / capitalismo

c) presidencialismo / parlamentarismo

d) monarquia / república

e) ditadura / democracia

6) A autêntica história brasileira nos diz que o Brasil não é um país:

a) cordial

b) de futuro

c) forte

d) injusto

e) de bons escritores

7) “Não sei por onde vou, mas sei que não vou por aí”. Por esse trecho, pode-se entender:

a) a dúvida de alguém que não sabe que decisão tomar

b) a revolta diante de uma situação aceita por todos i

c) a esperança e a certeza da mudança

d) a não-aceitação do que ocorre no momento

e) o desespero por não poder fazer alguma coisa pelo país

8) “À galera, as tripas, marca indelével em nossa culinária, como a feijoada.” A palavra “indelével”, no trecho acima, significa:

a) que não se pode desejar

b) que não se pode apagar

c) que não se pode aceitar

d) que não se pode explicar

e) que não se pode prever

9) Os maiores problemas do Brasil, na atualidade, são creditados:

a) ao grito de independência

b) ao ufanismo da elite

c) à privatização das empresas

d) ao neoliberalismo

e) ao Tesouro oficial

10) Segundo o autor, os intelectuais de aparência progressista são convocados para:

a) melhorar a imagem do governo no exterior.

b) integrar o Brasil na globalização.

c) desviar a atenção do povo para coisas de somenos importância.

d) levar o povo a se interessar pelos problemas sociais e políticos do país.

e) levar o povo a achar que tudo está bem.

11) A palavra “oligarquia” significa governo:

a) de ricos

b) de nobres

c) de poucos

d) de muitos

e) do povo

12) Dentre os problemas do Brasil, o texto não faz menção:

a) à escravidão dos negros

b) à opressão dos índios

c) ao voto-cabresto do Nordeste

d) à discriminação da mulher

e) à fome do povo

13) A palavra que, metaforicamente empregada, melhor exprime a idéia do autor sobre a tirania do governo brasileiro é:

a) casa-grande

b) tripas

c) império

d) tutelar

e) telenovelas

14) Para o autor, o Brasil, na realidade, nunca foi ou teve:

a) monarquia

b) república

c) ditadura

d) capitalismo

e) democracia

15) O último parágrafo do texto difere dos demais pois nele o autor demonstra:

a) alegria por ser brasileiro

b) certeza da transformação próxima

c) convicção de que o governo está melhorando

d) esperança em um país melhor

e) indiferença diante dos problema da atualidade brasileira

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3 d
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6 a
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