Dicas para a descrição na redação

Este é um rápido artigo em que falo um pouco sobre uma tipologia textual que não é bastante cobrada no Enem, mas que merece uma atenção especial visto que na compreensão das diferentes modalidades textuais que aparecem na prova, sobretudo nas questões que envolvem interpretação de textos, precisamos conhecer as características dos mais diversos gêneros. Veja então o conteúdo do artigo e, na sequência, deixe um comentário logo abaixo do post.

Dicas e considerações sobre a redação do Enem

1. Deve-se entender por objeto descrito o ser, o objeto (coisa em si), ambiente, espaço, situação, enfim, qualquer elemento que seja apreendido pelos sentidos e transformado, com palavras, em imagens.

2. Se o sujeito da descrição criar a imagem do objeto mais pelo objeto em si, temos a descrição objetiva (objetividade relativa). Há, neste caso, um certo distanciamento entre o sujeito e o objeto. Se o sujeito incorpora o objeto e o absorve em sua visão pessoal, temos a descrição subjetiva, em que objeto e sujeito elidem-se.

3. Ao descrevermos, fazemos uso da enumeração. Enumeramos características, comparações, metáforas, enfim, inúmeros elementos sensoriais. É preciso, no entanto, que a enumeração passe pelo crivo da seleção. Esta é responsável pela função orgânica (valor estrutural e significativo) e pela função expressiva (valor estético) do que foi apreendido pela enumeração. A seleção se incumbe de nos prevenir contra os elementos impertinentes ou excessivamente enumerados.

4. As personagens podem ser caracterizadas física e psicologicamente, ou pelas ações.


5.  É impossível separar narração de descrição, pois toda matéria narrada ocorre em um espaço ou ambiente descritos com uma funcionalidade e envolve personagens adequadamente caracterizadas. É comum, em histórias, que o conflito venha indiciado pela oposição das características das personagens ou que os ambientes contenham elementos reveladores de traços psicológicos das personagens envolvidas na trama. Esses elementos descritivos constituem um modo de narrar.

Exemplos:

  • “Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. (…)
    Mas que talento tinha para a crueldade, Ela era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo.” (Clarice Lispector)
  • “Aquela sala me incomodava. Ali, até hoje se encontra a herança da famúia: imponente, pesada. O pa-pel-de-parede ainda é o retrato puro das traições que minha avó suportou. De meu avô, de seus pais, dos empregados. O velho piano sempre a cantar a solteirice de minha tia Luisa. Na limpeza e na ordem, vejo minha mãe. D. Laura, que terna lembrança! Por ela todos passavam: um jantar sobre a mesa de jacarandá, um café no sofá das cinco, um sarau pela sala inteira, as empregadas, suando, para limpar o teto, os quadros, as janelas. Ninguém resistiu ao tempo, só esta sala imensa, cheia de móveis, quadros e relíquias. Minto, no atavismo das empregadas, o senso de limpeza, doce e trágica herança de D. Laura.” (Volney)

6. A descrição também pode ser considerada um dos elementos constitutivos da dissertação e da argumentação, geralmente explicitado no processo argumentativo em forma de exemplos da realidade ou dados concretos para firmar a tese que se defende. Esse recurso será tão mais funcional quanto maior for o grau de impessoalidade com que se caracteriza o objeto a ser empregado como argumento.