Erros comuns na redação
Ao receber de volta as suas redações corrigidas, o aluno busca, invariavelmente, os comentários do professor e neles procura com sofreguidão uma resposta para suas indagações: quais erros cometi? Que “pecados”, afinal, escrevi no texto para que tirasse tal e tal nota? Pensando nisso elenquei os erros mais comuns que percebo na sala de aula.
Um fato deve estar claro dentro de todos nós que temos urgência de respostas desse tipo: a teoria, na prática, é sempre outra, mesmo: falar é uma coisa, escrever o que se pensa e completamente diferente.
Abaixo, você encontrará 10 “pecados mortais” mais comuns: repetições que geram circularidade textual, uso indiscriminado de adjetivos como “enfeites” das frases, metáforas desgastadas (clichês, lugares-comuns), abstrações grosseiras. Além disso, no texto dissertativo deve-se evitar o uso sistemático de linguagem coloquial: procure lembrar-se sempre de que o corretor não procura encontrar em seu texto uma linguagem pura, que não tem defeitos, apurada, correta, mas que também não tolerara o uso de termos gíricos ou o abuso de expressões coloquiais.
Além desses fatos, o mau uso de pronomes relativos, de truísmos e dos chamados ditos populares – ou mesmo citações banais – também desgasta enormemente seu texto. No entanto, é preciso ressaltar aqui um fato: você pode evitar tudo isso, mas se não for bem informado, se não buscar conteúdos para discutir e debater, opinar e criticar, seu texto terá, com certeza, o pior de todos os defeitos: alienação dos contextos atuais. E esse é, sem dúvida, o maior de todos os perigos.
Para ilustrar o início das dicas, vejam este poema escrito por Paulo Leminski.
Língua Mátria
“Esta língua não é minha, qualquer um percebe. Quem sabe maldigo mentiras, vai ver que só minto verdades. Assim me falo, eu, mínima, quem sabe, eu sinto, mal sabe. Esta não é minha língua. A língua que eu falo trava uma canção longínqua, a voz, além, nem palavra. O dialeto que se usa à margem esquerda da frase, eis a fala que me lusa, eu, meio, eu dentro, eu, quase.”
Em um tempo de redação para vestibular, além da estrutura, que deve ser bem cuidada, de nos informarmos bem para que não cometamos deslizes, devemos evitar os chamados “pecados mortais da redação”. Tome nota:
1- Lugares-comuns ou clichês, adjetivos cristalizados, desgastados pelo uso:
Não há nada mais desgastante para um texto do que o costume de repetir infinitamente os chamados clichês ou o que chamamos de “senso comum”. Fuja disso, forme opiniões próprias com expressões também suas, que carreguem os seus pontos-de-vista de maneira absolutamente particular quando articulados. Veja “ótimos” maus exemplos:
“É uma tristeza muito grande ver até aonde o Brasil chegou.” “Devemos lutar, com o coração cheio de esperanças, por uma pátria livre e por um povo feliz” “Os governos devem fazer enormes esforços para que o povo desta Pátria possa ser considerado pessoas valorizadas.” “A crise de energia é apenas uma parte da questão.”
2- Linguagem coloquial e abstrações grosseiras:
Você já ouviu falar que a teoria na prática é outra, não ouviu? Pois, então, acrescente a isso uma outra circunstância também já citada: falar é uma coisa e escrever é outra, completamente diferente. Você já leu que, às vezes, carregamos os vícios da fala para o texto que estamos escrevendo. Evite isso, vigie-se constantemente. Observe os erros mais frequentes:
a) Se o apagão vai vir para ficar… (Se o apagão virá…) b) O presidente pegou e pensou que o povo brasileiro era burro. (O presidente pensou (imaginou) que o povo brasileiro fosse…) c) A nível de competência, João é muito mais que José. (João é mais competente que José. A expressão a nível de jamais deve ser usada como ordem indicadora ou comparativa) d) Com a derrota da inflação, o povo ficou hiper feliz. ((…) ficou demasiadamente feliz) e) E as deploráveis expressões coloquiais: isto quer dizer que… isto significa que… que podem ser vastamente usadas na fala (os professores usam muito, observe), mas são condenadas na escrita. f) Então, diante das tristezas que vemos acontecer a este país, paramos e pensamos, é preciso mudar! (Aqui, o parar é apenas expressão coloquial, não use, exclua-o!)
3- Verdades evidentes (os conhecidos truísmos):
Os chamados truísmos são denunciadores, em primeiro lugar, da fragilidade de nossas ideias, que se deixam assentar sobre o óbvio; em segundo, denunciam o uso do senso comum, das obviedades constantes que ouvimos. Veja os exemplos:
O primeiro turno das eleições brasileiras acontece sempre em outubro… Os homens, que são animais racionais…
4- Excesso de adjetivação para caracterizar circunstâncias fatos e acontecimentos:
O magnífico, inesperado e formidável desempenho da CPI da Corrupção…
5- Queísmo (encadeamento de quês sequenciados):
O certo é que, sabedores de que foram escolhidos pelo povo que neles votou de maneira inocente, os políticos que desonram tais votos que…
Observação: não existe apenas o queísmo; nas redações somos atacados por “maisismo”, ‘poisismo”…
6- Uso de provérbios ou ditos populares:
Cuide bem disso e não corra riscos. Quando estamos sob forte pressão para escrever nossa dissertação no vestibular, acabamos por lançar mão de tais estranhezas. Fuja de todos eles: empobrecem o texto.
7- Uso de gírias:
“O problema da violência é algo de que não podemos fugir. Por décadas sucessivas, assistimos ao abandono de um número incontável de neguinhos muitos caras geram os filhos e não querem assumir. Esses caras são, na maioria, gente da pesada que não deixa de curtir seu baratoso, não dando a mínima para os filhos.”
8-Análise dos temas propostos utilizando emoções exageradas:
“Os bandidos são assassinos impiedosos que nunca compreenderão o que é ser humano. Roubam, matam e furtam, não levando em consideração a vida dos inocentes. Suas almas malditas hão de arder no fundo dos infernos e Deus não terá misericórdia deles. Morte aos bandidos!”
9- Mau título:
Outra tendência do vestibulando é colocar um título banal na dissertação. Não se esqueça de que ele, o título, é como se fosse o nosso cartão de apresentação para o corretor. Evite usar títulos longos ou, pelo contrário, títulos formados apenas por artigo + substantivo (ou artigo + adjetivo + substantivo (A reforma agrária / A beleza do país). Não há, na verdade, uma receita para se escrever um bom título. Já vi em redações elaboradas por meus alunos certas construções que eram primores em originalidade. Títulos que prendem a atenção são aqueles que instigam o leitor a desejar sabe mais do assunto. O ideal é que você teste, teste e teste. Faça as redações simuladas, leia as redações premiadas na Fuvest, Enem, Unicamp. Assim você saberá quais os mais eficazes.
10- Tente não analisar o tema proposto sob apenas um dos ângulos da questão.
Sempre falo isso nas minhas aulas de redação. Todo assunto deve ser olhado sem sermos tendenciosos. Não se pode, por exemplo, ser contrário ao aborto simplesmente porque contraria os preceitos religiosos que você toma como verdadeiros. Eu já havia dito aqui que já aprendemos que (para conhecer o gato, é preciso conhecer o ponto de vista do rato. “E a lição de Alice no País das Maravilhas é uma bela e inesquecível lição: “Se queres, Alice, conhecer o ponto de vista do gato, conheças também o ponto de vista do rato.” De qualquer forma, sempre é bom colocar-se na posição do outro e fazer um exercício de imaginação que nos leve a considerar as outras hipóteses como verdadeiras também.