Introdução ao estudo da Literatura

Neste artigo vamos começar uma reflexão sobre a Literatura na prova do Enem. É evidente que os textos usados nas questões de leitura e interpretação [link], o textos literários são pretexto para questões de linguagem e até mesmo são usadas na coletânea da redação do Enem [link]. Inicialmente, no entanto, vamos pensar um pouco no que é Literatura lendo uma reflexão.

“Por que isto é arte?” “O que é arte?” Poucas perguntas provocarão polêmica mais acesa e tão poucas respostas satisfatórias. Embora não cheguemos a nenhuma conclusão definitiva, podemos ainda assim lançar alguma luz sobre estas questões. Para nós, arte é, antes de mais nada, uma palavra, uma palavra que reconhece quer o conceito de arte, quer o fato de sua existência. Sem a palavra, poderíamos até duvidar da própria existência da arte, e é um fato que o termo não existe na língua de todas as sociedades. No entanto, faz-se arte em toda a parte. A arte é, portanto, também um objeto, mas não é um objeto qualquer. A arte é um objeto estético, feito para ser visto e apreciado pelo seu valor intrínseco. As suas características especiais fazem da arte um objeto à parte, por isso mesmo muitas vezes colocado à parte, longe da vida cotidiana, em museus, igrejas ou cavernas. E o que se entende por estético? A estética costuma ser definida como “o que diz respeito ao que é belo”.

Esta é a reflexão proposta por H. W. Janson em seu livro História geral da arte. É interessante, neste aspecto, parar para pensar sobre qual o conceito de arte na perspectiva cultural de cada um. Qual o seu?

A Literatura

A arte da literatura existe há alguns milênios. Entretanto, sua natureza e suas funções continuam sendo objeto de discussão, principalmente para os artistas.
O homem, como ser histórico, tem anseios, necessidades e valores que se modificam constantemente. Suas criações – entre elas a literatura – refletem seu modo de ver a vida e de estar no mundo. Assim, ao longo da História, a literatura foi concebida de diferentes maneiras. Mesmo os limites entre o que é e o que não é literatura variaram com o tempo.
Tentemos, portanto, a definição mais abrangente possível, que atenda à concepção da literatura em nosso tempo:

Literatura é a arte que utiliza a palavra como matéria-prima de suas criações.

Uma obra literária – um poema, um conto; um romance… – tem alguma coisa em comum com um quadro ou uma canção, embora seja muito diferente destes.

Como vimos anteriormente, a obra de arte tem um valor intrínseco – uma qualidade estética – que a distingue das obras realizadas com finalidades práticas. O painel abaixo, São Francisco se despojando das vestes, pintado por Cândido Portinari na Igreja São Francisco de Assis, na Pampulha, em Belo Horizonte, é essencialmente diferente da obra de um pintor de paredes. O painel é uma obra de arte, possui um valor intrínseco – a combinação de formas e linhas, planos e volumes, luz e sombra, o jogo das cores, as texturas, o ritmo, a expressividade dos movimentos, dos gestos, dos contrastes… -; o trabalho do pintor de paredes possui valores extrínsecos, que estão ligados às suas finalidades práticas, como proteção da parede, higiene, decoração do ambiente para torná-lo agradável etc.

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A história da literatura

Como todas as outras artes, a literatura reflete as relações do homem com o mundo e com os seus semelhantes. Na medida em que essas relações se transformam historicamente, a literatura também se transforma, pois é sensível às peculiaridades de cada época, aos modos de encarar a vida, de problematizar a existência, de questionar a realidade, de organizar a convivência social etc.
Por isso, as obras de um determinado período histórico, ainda que se diferenciem umas das outras, possuem certas características comuns que as identificam. Essas características dizem respeito tanto à mentalidade predominante na época quanto às formas, às convenções e às técnicas expressivas utilizadas pelos autores.

Literatura e realidade

Como vimos, a obra literária, utilizando a palavra, recria a realidade, a vida. Essa definição focaliza dois aspectos opostos, mas complementares, da arte literária: a criação e a representação.
Por um lado ela é invenção. O autor cria uma realidade imaginária, fictícia. De outro, o universo da ficção mantém relações vivas com o mundo real. Nesse sentido, a literatura é imitação da realidade.
Frequentemente os autores utilizam fatos de suas vidas como matéria de literatura. São as chamadas obras confessionais. Mesmo nesses casos extremos, os textos não devem ser entendidos como simples biografias. Os fatos pessoais são apenas parte da matéria literária, o ponto de partida. Entre o que o autor viveu ou sentiu e a obra existem todas as mediações da invenção, da imaginação. Existe, sobretudo, o trabalho criativo com a palavra.
Do mesmo modo, a obra literária é essencialmente diferente dos textos produzidos em nossa vida prática, como cartas, relatórios ou este texto didático que você está lendo agora. Ela possui valores intrínsecos ou valores estéticos, que são construídos com as palavras. Ela (re)inventa a realidade com as palavras.

Funções da literatura

Para Quintana, a “necessidade da recriação das coisas em imagens” é um mistério. Por que o homem necessita tanto de poesia e de ficção, a ponto de vir, incansavelmente, há milénios, produzindo e lendo obras literárias?

Para que serve a arte? Para que serve a literatura?

As respostas a essas perguntas variam com o tempo e com as pessoas. Evidentemente, a função de uma obra literária depende dos objetivos e das intenções do autor. Mas os leitores também têm maneiras diferentes de ler e são levados a abrir um livro por motivos diferentes. Alguns buscam na literatura apenas um divertimento sem grandes consequências para a vida; outros, um instrumento
de transformação e de aperfeiçoamento. Uns consideram a obra literária apenas um artefato estético, criado para a contemplação da beleza; já outros esperam que seja um veículo de análise e de crítica em relação à sociedade e à vida.

  • A obra literária pode ser um instrumento de fuga da realidade. Qualquer leitura que se faz como distração possui essa mesma função evasiva. Ao lermos, por exemplo, uma história de aventuras, embarcamos em um navio pirata, lutamos ao lado de um super-herói, amamos belas mulheres… sonhamos.
  • Certas épocas literárias são marcadas pela importância que os autores atribuem à perfeição formal de suas obras. Os temas passam para um segundo plano, só interessando a beleza estética. Quando isso ocorre, a literatura pode alienar-se da realidade. É o que chamamos de arte pela arte, característica frequentemente encontrada, por exemplo, no Parnasianismo, movimento literário do final do século XIX.
  • O oposto da arte pela arte é a literatura engajada, de autores comprometidos com a defesa de ideias políticas, filosóficas ou religiosas. Quando limitam o trabalho criativo
    à retórica de convencimento, a obra reduz-se a um panfleto, mero instrumento de propaganda.

O que dizem os especialistas?

O que leva o homem a criar obras de arte? Sem dúvida, uma das razões é a necessidade premente de se enfeitar e de decorar o mundo à sua volta, necessidade que faz parte de um outro desejo, mais vasto, não o de recriar o mundo à sua imagem, mas antes o de dar a si próprio e ao mundo que o cerca nova forma ideai A arte, porém, é muito mais do que decoração, carregada como está de significado, ainda quando esse significado é pobre ou obscuro. A arte permite-nos transmitir a nossa percepção de coisas que não podem ser expressas de outra forma.

H.W.Janson

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