Estudo Bíblico – O Deus da primeira página
O caráter singular das boas-novas
Texto básico: Atos 9.1-9
A julgar pelo sucesso da comunicação 24 horas por dia, podemos afirmar que, atualmente, somos viciados em notícias. Além de sermos informados sobre os acontecimentos que moldam o nosso mundo, ansiamos por ser parte de algo maior do que nosso ciclo de vida normal. Por mais importantes que muitos desses eventos possam ser, na maioria dos casos, eles vêm e vão. Semanas, mesmo dias, às vezes horas passam, e nós nos esquecemos das manchetes que momentaneamente captaram nossa atenção.
A mesma coisa acontece na igreja. Esquecemo-nos muito facilmente das coisas que mais importam — a ordem que Cristo nos deu para proclamarmos o evangelho e apascentar as suas ovelhas—por causa de modismos que vêm e vão. Cada modismo religioso parece deixar apenas desilusão e fadiga. No entanto, estamos sempre prontos para a próxima grande novidade.
Muito antes do surgimento dos modernos meios de comunicação, o conteúdo básico da fé cristã era designado “notícia” — na verdade, boa notícia, boas-novas: o evangelho.
I. A concretude das boas-novas
Eis aqui o ponto-chave do cristianismo.
Por um lado, o evangelho é a notícia mais razoável na qual se pode acreditar.
Infelizmente, não é isso que estamos acostumados a ouvir nestes dias.
Segundo a opinião popular, religião é um salto irracional e, quanto mais você a investiga intelectualmente, mais probabilidade tem de superá-la.
Ainda mais, infelizmente essa é uma pressuposição tão provável de se ouvir nas igrejas como na rua.
A alegação de que “Jesus me faz mais feliz” é uma afirmação puramente subjetiva.
Ninguém deve tomar-se um cristão simplesmente por causa da utilidade disso para a vida.
O cristianismo não é uma fé baseada na utilidade, mas no amor gracioso de Deus que se manifesta de forma real na História, ímpar entre todas as reivindicações religiosas, o evangelho é um anúncio sobre determinados acontecimentos históricos.
Em sua essência, então, o cristianismo não é um recurso para a espiritualidade, religião e moralidade, mas uma história dramática, cuja a centralidade é a afirmação de que, durante o reinado de Tibério César, Jesus foi crucificado por nossos pecados e, depois de três dias, ressuscitou dentre os mortos.
Por outro lado, o evangelho é “loucura para os que se perdem” (ICo 1.18). Religião e filosofia — aquilo que os gregos consideravam “sabedoria” — estão ali para ajudar-nos com nossa alma e questões práticas da vida.
Toda essa conversa sobre a encarnação, vida, crucificação e ressurreição de um judeu parece fora de questão quando não se pensa realmente em si mesmo como pecador sob a ira de Deus.
Na medida em que continuamos a peregrinar nesta vida, o evangelho permanece estranho até mesmo para nós.
Até o dia da nossa morte, vamos lutar para acreditar na notícia ruim (somos pecadores) e nas boas-novas que Deus anuncia para nós (o evangelho).
Por natureza, não pensamos que nascemos em pecado, mortos espiritualmente, impotentes e incapazes de levantar um dedo para nos salvar ou impressionar um Deus santo.
Consequentemente, não nos ocorre que nossa maior necessidade seja sermos redimidos, justificados, regenerados, santificados e glorificados pela obra salvadora de Deus em seu Filho e por seu Espírito.
Você reconhece o que é realmente uma notícia quando a ouve.
Considere Saulo, o arqui perseguidor da igreja, a caminho de Damasco para outra perseguição aos seguidores de Jesus.
Derrubado ao chão por um encontro cegante com o Cristo ressuscitado e ascendido, ele ficou tonto de perplexidade.
Atuando de acordo com maior lealdade as suas mais profundas convicções sobre Deus e o desenrolar do plano divino na História, Saulo percebeu que todo o seu entendimento sobre Deus, sobre si mesmo, Israel e os gentios e toda a confiança que depositava no seu zelo moral estavam errados.
Ele tinha compreendido de forma totalmente errada o que Deus estava fazendo em Jerusalém.
A revolução foi tão poderosa em sua vida que seu nome foi mudado de Saulo para Paulo.
Como apóstolo dos gentios, Paulo disse aos cristãos de Filipos que, apesar de ter moldado a própria identidade numa perspectiva estritamente judaica — “hebreu de hebreus”, mais zeloso do que os colegas no compromisso com a Lei —, ele tinha passado a enxergar a própria “justiça” como “refugo”.
Tudo o que ele tinha acumulado pelo zelo e esforço mudava, então, para a coluna de débito, para “ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé”.
“Perseguidor da igreja encontra a salvação em Jesus Cristo.”
Por essa manchete de primeira mão, Paulo estava disposto a sofrer a mesma perseguição que havia infligido aos outros.
A notícia mudou tudo.
E Paulo já não seria a atração principal, mas representaria um papel secundário na história de Deus.
Foi Paulo quem disse que o evangelho é “escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, (…) poder de Deus e sabedoria de Deus” (1 Co 1.23-24).
II. A graça das boas-novas
E notável que os escritores bíblicos tenham escolhido a palavra “evangelho”.
A essência da maioria das religiões é bom conselho, boa técnica, bons programas, boas ideias e bons sistemas de apoio.
Essas coisas nos fazem mergulhar profundamente em nós mesmos para encontrar a nossa luz, bondade e a voz interior. Nada de novo pode ser encontrado dentro de nós.
Não há nenhum resgatador interior; eu só ouço ecos de minha própria voz dizendo-me todo tipo de coisas loucas para entorpecer o meu sentimento com medo, ansiedade e tédio, cujas origens eu não posso identificar verdadeiramente.
Mas a essência do cristianismo são as boas-novas.
Ele não chega como uma tarefa para executarmos, uma missão para realizarmos, uma estratégia para seguirmos com a ajuda de treinadores de vida, mas como um relato de tudo o que alguém já fez, realizou, seguiu e alcançou por nós.
Bons conselhos podem ajudar-nos suprindo a orientação diária; boas-novas a respeito de Jesus Cristo nos salvam da culpa do pecado e da tirania deste sobre nossa vida e do medo da morte.
As notícias são boas porque não dependem de nós.
Trata-se de Deus e de sua fidelidade a seus próprios propósitos e promessas.
A pessoa comum pensa que o objetivo da religião é proporcionar a nós uma lista de regras e técnicas ou um esquema de modo de vida que nos ajude a sermos mais carinhosos, misericordiosos, pacientes, atenciosos e generosos.
Claro, há muito disso na Bíblia. Como Moisés, Jesus resume toda a lei exatamente nestes termos: amor a Deus e ao próximo.
No entanto, por mais crucial que seja a manutenção da lei como revelação da vontade moral de Deus, ela é diferente da revelação da vontade redentora de Deus.
Somos chamados a amar a Deus e ao próximo, mas isso não é evangelho.
Cristo não precisava ter morrido na cruz para que soubéssemos que devíamos ser pessoas melhores.
Não que exortações morais sejam erradas, mas elas não têm poder algum para produzir o tipo de mundo que elas propõem.
Essas exortações e orientações podem ser boas.
Se elas provêm da Palavra de Deus elas são, de fato, perfeitas. Mas não são o evangelho.
O evangelho é a notícia de que Cristo já fez por nós, na cruz, tudo o que era necessário para a salvação e nos dá a fé para que creiamos em sua pessoa e em sua obra.
Como Paulo explica no início da sua carta aos Romanos (Rm 2.18-21), a lei foi escrita na consciência durante a criação.
Todo mundo sabe que é errado matar e roubar.
A idolatria é prova de que todos sabem que existe um Deus, e as tentativas das pessoas de acalmá-lo com seus próprios ritos e deveres espirituais se refletem em miríades de sistemas de sacrifício.
No entanto, essa revelação original e universal é lei, não evangelho. Depois da transgressão original dos nossos primeiros pais, Deus não se veria obrigado de nenhuma maneira a salvar alguém.
Tendo sido estabelecida a condição para entrar no seu descanso e da sentença por violá-lo, Adão e Eva não tinham razão alguma para esperar nada para si ou para seus descendentes, exceto a confirmação da morte eterna.
Contudo, Deus escolheu livremente ter misericórdia.
Outra palavra veio de seus lábios: a boa notícia de um Salvador que viria da carne de Eva, um novo Adão, que iria esmagar a cabeça da serpente.
A partir de então, a raça humana foi dividida em duas famílias: uma representada por Caim e seu reino orgulhoso e outra representada por Sete, cujos herdeiros invocaram o nome do Senhor.
Um reino impulsionado pelo desejo de dominação visa à prosperidade temporal, segurança e justiça, mas cai perpetuamente em violência e colapso interno.
O outro reino impulsionado pela promessa de Deus contempla Deus por salvação e todas as bênçãos celestiais em Cristo.
Os programas religiosos e estratégias de divulgação podem criar centros sociais definidos por nichos demográficos, mas o evangelho cria uma verdadeira comunidade transcultural que reúne gerações, raças, ricos e pobres em tomo de Cristo e do seu banquete da graça.
Não é à toa que as pessoas ficam entediadas com a igreja e assumem que podem muito bem levar a vida sem ela, afinal, ninguém precisa ser cristão para sabei que precisa ser uma boa pessoa, um bom cidadão ou uma pessoa generosa e amável.
Precisamos voltar a ver Deus como o ator em cartaz novamente, em lugar de vermos a nós mesmos.
Não somos nós que devemos encontrar um papel de coadjuvante para Deus em nossas campanhas pessoais e sociais para o bem-estar espiritual, moral e terapêutico.
Precisamos parar e ouvir o anúncio de Deus sobre o que ele fez para salvar pecadores como nós.
A única coisa que a igreja pode oferecer ao mundo, que é verdadeiramente singular, é o evangelho.
Somente o evangelho realiza uma nova criação na presente era de pecado e morte.
Essa é a mensagem fundamental da igreja de Cristo.
Conclusão da lição
Muitos são os modismos que passaram pela igreja e muitos ainda virão.
Muitos esforços e recursos foram gastos (e ainda serão) anunciando uma mensagem centrada no ser humano – sentir-se bem, ter prosperidade, travar batalhas…
Tudo isso passa. Essa não é a notícia que a igreja recebeu e que tem o dever de anunciar a este mundo caído.
As boas-novas anunciadas na Escritura, as boas-novas que transformam vidas são que Cristo pagou, na cruz, o preço do perdão dos nossos pecados, para que tenhamos nele e com ele vida nova, abundante e eterna.
Aplicação da lição
Incentive sua classe a estreitar relacionamentos com pessoas que ainda não conhecem a Cristo, para anunciar-lhes o evangelho e também a acompanhar nossos próximos estudos bíblicos.