Pré-Modernismo – Contexto histórico-cultural
O Pré-Modernismo é um divisor de águas entre os “ismos” do final do século XX e o Modernismo que se inicia em 1922, com a Semana da Arte Moderna.
Na década de 50, o crítico literário Alceu de Amoroso Lima deu nome ao período que, até então, não tinha sequer denominação.
Esta época, no entanto, guarda dentro dela a produção incomparável de Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Lima Barreto e Augusto dos Anjos. Pré-modernistas, simplesmente? Pioneiros, talvez.
Euclides possui o tom positivista de análise social; Lobato lembra o Vale do Paraíba e seus tipos peculiares, os caboclos jecas-tatus, piolhos da terra, como ele mesmo gostava de dizer… Lima Barreto foi tardiamente valorizado pelos modernistas, mas deixou uma obra mágica: Triste Fim de Policarpo Quaresma, adaptada ao tempo do início da República no Brasil. Policarpo, tal qual D. Quixote brasileiro, é o tipo inesquecível daquele escritor.
Na poesia, repontam os versos de Augusto dos Anjos, uma espécie de bíblia para os malditos de todas as idades… Poesia de dessacralização do que é lírico, da podridão da carne, da desintegração do corpo.
Época heterogênea demais. Por isso tão encantadora também.
“Quando me julgo, nada valho; quando me comparo, sou grande. É o meu consolo.”
Lima Barreto, Diário íntimo
Contexto histórico-cultural do Pré-Modernismo
Tristão de Ataíde, pseudônimo literário do filósofo e crítico Alceu de Amoroso Lima, usou pela primeira vez o termo “Pré-Modernismo” na década de 50; com tal denominação, pretendeu nomear apenas a produção entre 1902 – ano da publicação dos romances Canaã, de Graça Aranha e Os sertões, de Euclides da Cunha e a Semana da Arte Moderna, em fevereiro de 1922, porta de entrada para a modernidade brasileira.
É preciso considerar que o Pré-Modernismo é uma espécie de mediador de águas: se de um lado ainda é conservador como, por exemplo, na mentalidade positivista, dispõe de uma outra faceta: a revolucionária, aquela que capta as dificuldades do homem moderno, da realidade brasileira e reflete novos tempos como a República e os problemas gerados pela Abolição da Escravatura.
O Pré-Modernismo desenvolveu-se numa época difícil, dividindo espaços com uma literatura “oficial” comprometida com o poder e a classe dominante (ver Olavo Bilac, por exemplo) e com o artificialismo ou ostensiva denúncia social dos naturalistas ou realistas; tome-se, ainda, a literatura simbolista, composta por nefelibatas decadentes.
É preciso esclarecer que o Pré-Modernismo não é propriamente uma escola literária; mas um determinado período, ou fase de transição, entre os “ismos”” do final do século passado e início deste século e a Escola Modernista, iniciada em 1922.
Na política, religião, economia, eis os principais acontecimentos que permearam tal tendência:
1. A Guerra de Canudos, na Bahia, entre os anos de 95-97;
2. O fenômeno do cangaço, aparecido na segunda metade do século XIX, tipicamente nordestino, recrudesce a partir de 1900;
3. A histeria fanático-religiosa nordestina, o misticismo, o “Padim Padre Ciço” no Ceará;
4. A Revolta contra a vacina obrigatória, no Rio de Janeiro, em 1904;
5. A Guerra do Contestado (1912-1916), em Santa Catarina, envolvendo o Exército e os posseiros da região conhecida como Rio do Peixe, entre o Estado do Paraná e Santa Catarina;
6. O Ciclo da Borracha, no Amazonas, cujo apogeu foi 1913 (exportação correspondente a 97% de toda a produção mundial daquele produto);
7. Revolta da Chibata, 1910, Rio de Janeiro. O “almirante negro” João Cândido comanda os amotinados a bordo do navio Minas Gerais, sob o pretexto de que devessem ser abolidos os castigos corporais comuns na Marinha brasileira. Cerca de 150 marujos são presos, mortos por fuzilamento ou levados sob desterro para a Amazônia;
8. Greves gerais operárias em São Paulo, cujas reivindicações eram melhorias nas condições do trabalho proletário (1917);
9. República do “café-com-leite”: oligarquias rurais paulistas e mineiras sucedem-se no poder recém-deixado pela República da Espada.
Os temas do Pré-Modernismo
Os temas pré-modernistas podem ser classificados genericamente como sociais, compromissados com a sociedade brasileira do tempo:
a) Euclides da Cunha: a insanidade da Guerra de Canudos, a miséria do nordestino, sua submissão religiosa;
b) Lima Barreto: o preconceito racial;
c) Monteiro Lobato: o regionalismo do Vale do Paraíba, seus tipos humanos, costumes político-sociais.
d) Graça Aranha: a imigração, sobretudo a alemã.
Na poesia, aparece Augusto dos Anjos: poesia escatológica (temas que resvalam na podridão da carne), cujos temas são permeados pelo cientificismo, angústia e morte, decomposição da carne.
É isso, esta é uma breve introdução a respeito do Pré-Modernismo. Na plataforma do meu curso de Português você vai encontrar um artigo completíssimo sobre o assunto e uma lista de exercícios já com gabarito para estudar e, caso seja professor, montar as atividades para seus alunos.