Exercícios sobre verbos – Questões com gabarito
No artigo de hoje vamos explorar um conteúdo bastante importante no estudo da Língua Portuguesa. Do ponto de vista semântico, verbo é a classe de palavras que designa um processo ou um estado. Do ponto de vista sintático, verbo é a palavra pela qual se realizam atribuições ao sujeito da oração. É um constituinte indispensável de qualquer ato de predicação. Por último, Do ponto de vista mórfico, o verbo apresenta desinências típicas para marcar pessoa, número, tempo e modo. Vale ainda dizer que o verbo é a única classe gramatical que se enquadra na categoria de tempo e que em Português, a voz verbal (ativa ou passiva) não é marcada por desinências típicas mas por outro processo, como veremos posteriormente.
Exercícios sobre verbos com Gabarito
1. Considere o texto publicitário a seguir.
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Casa Claudia. São Paulo: Abril, ano 26, n. 10. out. 2002.
► O texto da propaganda utiliza um recurso bastante recorrente em anúncios publicitários, quanto ao emprego de verbos. diga que recurso é este e que efeito de sentido ele provoca no leitor.
>> Leia a letra de música a seguir para responder às questões de 2 a 4.
Ai, se sesse!
Se um dia nóis se gostasse;
Se um dia nóis se queresse;
Se nóis dois se impariasse;
Se juntinho nóis dois vivesse!
Se juntinho nóis dois morasse;
Se juntinho nóis dois drumisse;
Se juntinho nóis dois morresse!
Se pro céu nóis assubisse!?
Mas porém, se acontecesse,
Qui São Pedro não abrisse
As porta do céu e fosse,
Te dizê quarqué toulice?
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse,
Pra qui eu me arrezorvesse
E a minha faca puchasse,
E o buxo do céu furasse?…
Tarvez qui nóis dois ficasse
Tarvez qui nóis dois caísse,
E o céu furado arriasse
E as Virge todas fugisse!!!
SILVA, Severino de Andrade (“Zé da Luz”). Cordel do Fogo Encantado. Trama, 2001.
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Impariasse: variante popular para “emparelhar” (ficar lado a lado, tornar-se parceiro).
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arriminasse: variante popular para “arrimar” [arrumar(-se): conseguir boa situação, sob qualquer aspecto].
2. A música foi composta numa norma não padrão da língua. Isso fica evidente na ortografia de certas palavras, como buxo (bucho), puchasse (puxasse), tarvez (talvez), entre outras. Mas essa variedade pode também ser percebida quando observamos a conjugação dos verbos.
► Qual o modo verbal que predomina na letra da música? em que tempo está?
► Que efeito o modo e o tempo desses verbos produzem na música?
3. Observe o título da música Ai, se sesse. Que verbo seria este cujo subjuntivo é sesse? Como é, na norma padrão, o subjuntivo deste verbo?
4. Como a variedade linguística utilizada na composição dessa música não é a padrão, nem todos os verbos estão conjugados de acordo com as regras da língua padrão. reescreva aqueles cuja conjugação diverge da concordância oficial.
5. O pretérito perfeito do indicativo é geralmente usado para descrever fatos ou estados concluídos no passado e em algum momento anterior ao instante em que se fala. Considere as frases a seguir e diga se esta característica do perfeito do indicativo se aplica a elas.
“Viu, gostou, levou” (Anúncio publicitário)
“Pensou persiana, lembrou Columbia” (Anúncio publicitário de persianas)
“Ajoelhou, tem que rezar” (Dito popular)
>> Leia o texto a seguir para responder as questões de 6 a 8.
O futuro do gerúndio
Você já se irritou hoje? Não? Parabéns: você não deve ter telefonado para o seu banco até o momento. Porque qualquer operação bancária que você faça ao telefone com um ser humano do outro lado da linha vai necessariamente envolver uma resposta no odioso futuro do gerúndio.
Sim, você conhece esse novo tempo verbal — só não sabia que ele se chamava assim. “Nós vamos estar creditando 500 reais na sua conta”, “os talões vão estar sendo enviados para a sua casa”, “vai estar sendo debitado da poupança” — frases que a gente ouve mais do que “bom dia”, não é mesmo?
Pois bem. Até quando você e eu vamos estar sendo submetidos a esse martírio? Por que temos que estar obrigados a estar tendo que ouvir frases que vão estar contaminado nosso cérebro a longo prazo? Quanto tempo vamos estar demorando para passar a estar falando desse jeito na vida real?
FREIRE, Ricardo. The best ofXongas. São Paulo: Mandarim, 2001.
6. Ricardo Freire, no texto transcrito, trata da inadequação de uma determinada construção gramatical.
► Qual é a inadequação?
► Explique, do ponto de vista gramatical, em que consiste esta inadequação.
► Qual seria a construção gramatical correta a ser utilizada em lugar do “futuro do gerúndio?
7. O autor manifesta a sua preocupação com o fato de, daqui a algum tempo, os falantes passarem a utilizar esse tipo de construção inadequada em função da frequência com que a ouvem. De que recurso se vale o autor para comprovar essa possibilidade?
8. Reescreva o trecho a seguir, eliminando o futuro do gerúndio.
Por que temos que estar obrigados a estar tendo que ouvir frases que vão estar contaminando nosso cérebro no longo prazo? Quanto tempo vamos estar demorando para passar a estar falando desse jeito na vida real?
9. Leia com atenção o texto a seguir.
Fui abandonado por Flora (e que a humildade dessa voz passiva pulverize os que sempre me pintaram como bastião do porco-chauvinismo) no meio de uma mononucleose.
RODRIGUES, Sérgio. O homem que matou o escritor. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
► Explique por que o narrador se refere à “humildade da voz passiva” como comprovação para o fato de não poder ser considerado chauvinista.
► Se o narrador correspondesse à imagem de “bastião do porco-chauvinismo”, que estrutura sintática seria utilizada por ele? Justifique sua resposta.
10. A correlação dos tempos verbais é um importante fator para a construção do tempo em um texto narrativo. No texto transcrito a seguir, preencha as lacunas com o verbo indicado, estabelecendo a adequada correlação de tempos entre as formas verbais.
O importante era não ser preso logo. Gim se___________(espremer) contra um vão de porta, os policiais pareciam correr em frente, mas de repente_________(ouvir) os passos____________(retornar),__________(dar) a volta pelo beco._________(pular) fora rápido, em saltos leves.
—_____(parar) ou a gente_________(atirar), Gim!
“Está bom, vamos ver, atirem!”, pensava ele, e já___________ (estar) fora do alcance dos tiros, a grandes passadas na beirinha dos degraus de pedra, __________ (despencar) pelas vielas tortas da cidade velha. Acima da fonte_________ (saltar) a balaustrada da rampa, e então________(ficar) embaixo da arcada que_____________ (amplificar) os passos.
CALVINO, Italo. A aventura de um bandido. In: Os amores difíceis. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
>> Leia o texto a seguir para responder às questões 11 e 12.
Vamos parar de estar falando besteira?
O gerúndio toma conta do besteirol telefônico
Você liga para um serviço qualquer via telefone, pede uma informação, e a voz do outro lado responde: “O sr. pode aguardar um pouco, que eu vou estar anotando seu pedido?”.
Você liga o rádio, e um especialista do Procon ensina ao consumidor o que fazer no caso de saques irregulares na conta corrente: “Primeiro, ele deve estar providenciando um boletim de ocorrência. Depois, deve estar procurando o Procon para as medidas cabíveis.”.
Estar verificando, estar enviando, estar aguardando, estar batendo o telefone, estar desligando o rádio, porque não dá mais para aguentar tanto gerúndio.
Vou verificar, o sr. deve aguardar, eu bato o telefone e desligo o rádio porque não aceito mais essa deformação que está em curso na pobre língua pátria, vítima de tantas agressões. […] Tudo bem, ao longo dos anos a gente vem aguentando “poblema”. “pobrema”, “nóis vai”, “solvete”, “pograma”, “muié”, “cumê”, “durmi” etc. Afinal, como diria o Manuel Bandeira, essa é a “língua certa do povo”, e esse povo é inculto mesmo.
Agora, ter que ficar aturando uma enxurrada de gerúndios desnecessários e enervantes, que só servem para desvirtuar a musicalidade e a eficiência de nossa língua, aí já ê demais.
Principalmente porque essa mania contaminou gente de um certo nível escolar: secretárias, atendentes de telemarketing, funcionários de empresas de cartões de crédito, serviços de informação em geral e até um ou outro radialista. Ou seja, gente que deveria saber e poderia falar corretamente.
CAVERSAN, Luiz. Coluna Pensata. Folha Online, 14 out. 2000. (Fragmento).
11. Luiz Caversan, no texto transcrito, trata da inadequação de uma construção gramatical comumente utilizada por secretárias, atendentes de serviços telefônicos e “até um ou outro radialista”.
► Qual é a inadequação?
► Explique, do ponto de vista gramatical, em que consiste esta inadequação.
► Qual seria a construção gramatical correta a ser utilizada nestes casos?
12. Quando diz “esse povo é inculto mesmo”, por falar “poblema”. “pobrema”, “nóis vai”, “solvete”, “pograma”, “muié”, “cumê”, “durmi”, Luiz Caversan faz uma afirmação preconceituosa do ponto de vista linguístico. Com base no que estudou sobre variação linguística, explique por que tal afirmação é inadequada.
13. Do trecho a seguir, retirado do conto O poço, de Mário de Andrade, foram suprimidos alguns verbos. Preencha os espaços com as formas verbais adequadas, utilizando o que aprendeu sobre correlação dos tempos verbais.
Ali pelas onze horas da manhã o velho Joaquim Prestes_________(chegar) no
pesqueiro. Embora___________ (fazer) força em se mostrar amável por causa da visita convidada para a pescaria,_______(vir) mal-humorado daquelas cinco léguas de fordinho cabritando na estrada péssima. Aliás o fazendeiro_______(ser) de pouco riso mesmo, já endurecido por setenta e cinco anos que o_______________(mumificar) naquele esqueleto agudo e taciturno.
ANDRADE, Mário de. Contos Novos. 17. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1999. (Fragmento).
>> Leia o texto a seguir para responder às questões de 14 a 18.
Sinais dos Tempos (Verbais)
O futuro do deslocamento. O que aconteceu com o futuro do Brasil? Antigamente ele era róseo e promissor. Hoje ele se mostra feio e carregado de vícios.
E só você abrir um jornal — qualquer jornal — para ler: “O ministro da Fazenda irá anunciar a nova taxa de juros”. Irá anunciar? Por que não o velho e coloquial “vai anunciar”, ou o sintético “anunciará”? Por que diabos o ministro precisa “ir” para “anunciar”? Até onde eu entendo, “o ministro irá anunciar” significa que o pobre coitado vai acordar, chamar um táxi, percorrer toda a distância entre sua casa no Lago Sul e a Esplanada dos Ministérios, e só então revelar a nova taxa de juros à imprensa. Eu fico cansado só de pensar.
E quando se diz que o “governo irá combater o desperdício”? Já vejo centenas de aviões sendo fretados para o governo ir até o desperdício que precisa tanto ser combatido — e só aí já se jogou fora todo o dinheiro que ele queria economizar.
“O Palmeiras irá jogar com seu time completo” até faz algum sentido quando a partida é em La Paz, pela Libertadores. Mas se o jogo é no Parque Antártica contra a Matonense, me desculpem, mas o time completo não tem que ir a lugar nenhum.
Pelo fim de tantas indas e vindas inúteis! Abaixo o futuro do deslocamento!
O mais-que-perfeito. Assim como o talher de peixe, trata-se de um arcaísmo que teima em não desaparecer. É o cúmulo da arrogância: se a perfeição já é uma coisa inatingível, imagine um estado mais-que-perfeito!
E o mais incrível é que o mais-que-perfeito brota do nada, aparecendo em textos que você mesmo escreveu, numa mágica que só os revisores são capazes de operar. Já perdi a conta das vezes em que um singelo “tinha recusado” escrito por mim apareceu publicado como “recusara”. Recusara? Eu? São calúnias, meritíssimo!
Quero deixar claro que eu não fumo, nunca uso drogas e, sobretudo, jamais estivera, vira ou merecera. Tenho cá meus defeitos, mas daí a dizer que eu fora, que eu falara ou que eu levara já vai uma grande distância. Se você vir que eu beijara, pode apartar que é briga!
Fica combinado assim: o Ministério da Educação irá anunciar que, com exceção de tomara, pudera, quem me dera, Anhanguera e Guanabara, o mais-que-perfeito vai estar acabando a partir de segunda-feira que vem.
FREIRE, Ricardo. The best of Xongas. São Paulo: Mandarim, 2001. (Fragmento).
14. Ricardo Freire aborda, em seu texto, um fenômeno que envolve o tempo futuro. O que o autor chama de futuro do deslocamento ocorre em, por exemplo, irá anunciar. descreva como é composta esta estrutura verbal.
15. O jornalista considera essa estrutura verbal equivocada. Qual(is) seria(m) a(s) maneira(s) “correta (s)”, segundo ele?
16. O autor, em seu texto, revela uma atitude mais normativa ou mais condescendente com fenômenos que estão ocorrendo na linguagem coloquial? Cite trechos em que o autor revela seu ponto de vista sobre esta questão.
17. Ricardo Freire propõe que se deixe de usar a forma sintética do mais-que-perfeito, por se tratar de um arcaísmo. O dicionário traz a seguinte explicação para o verbete Arcaísmo:
1. palavra, expressão, construção sintática ou acepção que deixou de ser usada na norma atual de uma língua […] Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa 1.0. (Fragmento).
► Isto significa que o que é arcaico hoje não o foi sempre. levando-se isso em conta, por que a postura adotada pelo autor ao comentar o mais-que-perfeito não é compatível com a postura que revela ao tratar do futuro do deslocamento?
18. O que há de curioso no trecho: “Fica combinado assim: o Ministério da educação irá anunciar que, com exceção de tomara, pudera, quem me dera, anhanguera e Guanabara, o mais-que-perfeito vai estar acabando a partir de segunda-feira que vem”.
>> Leia o texto a seguir.
Humor involuntário — novidade revolucionária mesmo foi a expressão publicada num jornal de São Paulo: “daqui há algum tempo”. Assim, com “há”, referindo-se ao futuro. Como a matéria não pretendia ser de humor, pode-se imaginar que o repórter, o editor e o revisor talvez tenham cabulado juntos de mãos dadas, as aulas sobre o verbo haver.
MACHADO, Josué. Manual da falta de estilo. São Paulo: Best Seller, 1994. (Fragmento).
19. Josué Machado, no texto acima, aponta um equívoco com relação ao uso do verbo haver cometido por um redator paulista.
► Em que consiste o equívoco? Justifique sua resposta com uma passagem do texto.
► Reescreva o trecho da maneira correta, justificando sua resposta.
>> O texto a seguir deve servir como base para as questões de 20 a 24.
O verbo for
Vestibular de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas. Acho inadmissível e mesmo chocante (no sentido antigo) um coroa não ser reacionário. Somos uma força histórica de grande valor. Se não agíssemos com o vigor necessário — evidentemente o condizente com a nossa condição provecta —, tudo sairia fora de controle, mais do que já está. O vestibular, é claro, jamais voltará ao que era outrora e talvez até desapareça, mas julgo necessário falar no antigo às novas gerações e lembrá-lo às minhas coevas (ao dicionário outra vez; domingo, dia de exercício).
O vestibular de Direito a que me submeti, na velha Faculdade de Direito da Bahia, tinha só quatro matérias: português, latim, francês ou inglês e sociologia, sendo que esta não constava dos currículos do curso secundário e a gente tinha que se virar por fora. Nada de cruzinhas, múltipla escolha ou matérias que não interessassem diretamente à carreira. […] Havia provas escritas e orais. A escrita já dava nervosismo, da oral muitos nunca se recuperaram inteiramente, pela vida afora. Tirava-se o ponto (sorteava-se o assunto) e partia-se para o martírio, insuperável por qualquer esporte radical desta juventude de hoje. […] O maior público das provas orais era o que já tinha ouvido falar alguma coisa do candidato e vinha vê-lo “dar um show”. Eu dei show de português e inglês. O de português até que foi moleza, em certo sentido. O professor José Lima, de pé e tomando um cafezinho, me dirigiu as seguintes palavras aladas:
— Dou-lhe dez se o senhor me disser qual é o sujeito da primeira oração do Hino Nacional.
— As margens plácidas — respondi instantaneamente e o mestre quase deixa cair a xícara.
— Por que não é indeterminado, “ouviram etc.”?
— Porque o “as” de “as margens plácidas” não é craseado. Quem ouviu foram as margens plácidas. É uma anástrofe, entre as muitas que existem no Hino. “Nem teme quem te adora a própria morte”: sujeito: quem te adora. Se pusermos na ordem direta…
— Chega! — berrou ele. — Dez! Vá para a glória! A Bahia será sempre a Bahia!
Quis o irônico destino, uns anos mais tarde, que eu fosse professor da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia e me designassem para a banca de português, com prova oral e tudo. […] Uma bela vez, chegou um [candidato] sem o menor sinal de nervosismo, muito elegante, paletó, gravata e abotoaduras vistosas. A prova oral era bestíssima. Mandava-se o candidato ler umas dez linhas em voz alta (sim, porque alguns não sabiam ler) e depois se perguntava o que queria dizer uma palavra trivial ou outra, qual era o plural de outra e assim por diante. Esse mal sabia ler, mas não perdia a pose. Não acertou a responder nada. Então, eu, carrasco fictício, peguei no texto uma frase em que a palavra “for” tanto podia ser do verbo “ser” quanto do verbo “ir”. Pronto, pensei. Se ele distinguir qual é o verbo, considero-o um gênio, dou quatro, ele passa e seja o que Deus quiser.
— Esse “for” aí, que verbo é esse?
Ele considerou a frase longamente, como se eu estivesse pedindo que resolvesse a quadratura do círculo, depois ajeitou as abotoaduras e me encarou sorridente.
— Verbo for.
— Verbo o quê?
— Verbo for.
— Conjugue aí o presente do indicativo desse verbo.
— Eu fonho, tu fões, ele fõe — recitou ele, impávido. — Nós fomos, vós fondes, eles fõem.
Não, dessa vez ele não passou. Mas perseverou, deve ter acabado passando e hoje há de estar num posto qualquer do Ministério da Administração ou na equipe econômica, ou ainda aposentado como marajá, ou as três coisas. Vestibular, no meu tempo, era muito mais divertido do que hoje e, nos dias que correm, devidamente diplomado, ele deve estar fondo para quebrar. Fões tu? Com quase toda a certeza, não. Eu tampouco fonho. Mas ele fõe.
RIBEIRO, João Ubaldo. O conselheiro come. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. (Fragmento).
20. João Ubaldo ribeiro, neste texto, estabelece uma comparação entre o “vestibular do seu tempo” e o atual, valendo-se da sua experiência pessoal como candidato e como examinador, respectivamente, diante da prova oral de português.
► Com relação ao conhecimento gramatical exigido, em que se diferenciam os dois exames?
► Qual a crítica presente no texto a partir da constatação dessas diferenças?
21. Qual o erro na resposta do candidato avaliado por João Ubaldo, no trecho a seguir?
— Esse “for” aí, que verbo é esse?[…]
— Verbo for.”
22. “[…] peguei no texto uma frase em que a palavra ‘for’ tanto podia ser do verbo ‘ser’ quanto do verbo ‘ir’.”. O que é necessário para que ocorra a igualdade entre esses dois verbos, como afirma João Ubaldo? Justifique sua resposta com duas frases em que se verifique esta igualdade.
23. O candidato não só afirma a existência do verbo for, como o conjuga no presente do indicativo.
► É possível perceber a semelhança com um verbo que, de fato, existe na língua portuguesa. Que verbo é este e como é classificado?
► Além do paradigma de conjugação do presente do indicativo, que formas verbais podem ser identificadas em fondo e fões tu?
24. Se, na prova oral a que João Ubaldo foi submetido quando prestou vestibular, o ponto sorteado fosse conjugação de verbos, o autor não daria um show. O que, no último parágrafo, comprova esta afirmação? Justifique sua resposta.
>> Leia o texto a seguir para responder às questões 25 e 26.
Os verbos VIR e VER merecem muito carinho. Quem deseja falar corretamente pode passar por alguns apertos. Ou erramos ou nos engasgamos. […] Recentemente, a gerente de uma loja esbravejava pelo telefone. Falava tão alto, que todos puderam ouvir: “Se ela não vim, vai ser demitida. E se tu vê ela por aí, pode avisar.”
DUARTE, Sérgio Nogueira. Língua viva III: uma análise simples e bem-humorada da linguagem do brasileiro. São Paulo: Rocco, 2000. (Fragmento).
25. Ao dizer “se ela não vim”, a gerente conjugou inadequadamente o verbo vir.
► Em que consiste essa inadequação?
► Outro erro frequente é o uso da expressão “eu vou vim”. Por que esse erro ocorre?
26. “e se tu vê ela por aí, pode avisar.” Nesse enunciado, o verbo ver é conjugado inadequadamente também.
► Em que tempo e modo o verbo ver deveria estar conjugado?
► É possível concordar o verbo com a segunda pessoa, como fez a gerente, ou com a terceira (você). Além disso, o pronome pessoal ela deve ser substituído pelo pronome pessoal oblíquo. Levando em conta essas informações, reescreva o enunciado das duas maneiras possíveis.
Gabarito dos exercícios
1. O recurso de que se vale o anúncio é o uso do imperativo (mude, descubra, experimente, confie). ao utilizar esse modo verbal, o publicitário pretende convencer o leitor da necessidade de consumir o produto, induzindo-o a adquiri-lo.
2. ► O modo subjuntivo, no pretérito imperfeito.
► O modo subjuntivo denota algo hipotético, algo cuja probabilidade de ocorrência é duvidosa ou incerta. No caso da música, o autor elabora perguntas do que aconteceria caso o amor hipotético entre o eu lírico e sua/seu parceira/o se efetivasse.
3. Sesse corresponde ao verbo ser, portanto o subjuntivo é fosse.
4. Conjugados de acordo com a norma padrão, os verbos assumiriam as seguintes formas: se fosse, se nós nos gostássemos, se nós nos quiséssemos, se nós nos emparelhássemos, se nós vivêssemos, se nós morássemos, se nós dormíssemos, se nós morrêssemos, se nós subíssemos, se eu me arrimasse, se tu insistisses, para que eu me resolvesse, se nós ficássemos, se nós caíssemos, se as virgens todas fugissem.
5. Tanto nas frases dos anúncios quanto nos ditos populares, os verbos que estão no pretérito perfeito do indicativo não se referem a algo já concluído anteriormente ao momento em que se fala. eles equivalem a uma espécie de verdade absoluta, isto é, são asserções válidas para qualquer momento. Assim, por exemplo, “pensou persiana, lembrou Columbia” equivaleria a “toda vez que você pensar em persiana, você deve se lembrar das persianas da marca Columbia”.
6. ► O uso desnecessário do gerúndio em algumas locuções verbais, como “vamos estar credi-
tando”, “vão estar sendo enviados”, “vai estar sendo debitado”. O autor chama esse tipo de construção de “futuro do gerúndio”.
► O gerúndio é uma forma verbal que dá a ideia de continuidade, de ação em processo. Nestes casos, está usado inadequadamente porque o sentido que se pretende é o de ação futura, que será realizada.
► O correto seria usar o futuro do presente simples (creditaremos) ou composto (serão enviados, será debitado).
7. Ricardo Freire, ao manifestar sua preocupação, se vale da reprodução irônica da estrutura que está criticando: “vamos estar sendo submetidos”, “temos que estar obrigados a estar tendo que ouvir”, “vão estar contaminado”, “vamos estar demorando para passar a estar falando”.
8. Por que temos que ser obrigados a ouvir frases que contaminarão nosso cérebro no longo prazo? Quanto tempo demorará para passarmos a falar desse jeito na vida real?
9. ► O narrador refere-se à “humildade da voz passiva” porque, uma vez que o sujeito sofre a
ação verbal nessa estrutura sintática, ele sempre estará em posição inferior.
► O narrador empregaria a voz ativa. Como nessa estrutura sintática o sujeito pratica a ação verbal, ele estaria em uma posição superior.
10. As formas verbais que preenchem adequadamente as lacunas são: espremeu, ouviu, retorna-
rem, darem, pulou, para, atira, estava, despencando, saltou, ficou, amplificava.
11. ► O uso desnecessário do gerúndio em algumas locuções verbais, como “vou estar consultando”, “deve estar providenciando”, etc.
► O gerúndio é uma forma verbal que dá a ideia de continuidade de uma ação presente, de ação em processo. Nestes casos, está usado inadequadamente porque o sentido que se pretende é o de ação futura, que será realizada.
► O correto seria usar o futuro do presente simples (consultarei, providenciará) ou composto (vou consultar, deverá providenciar).
12. Luiz Caversan demonstra ter preconceito linguístico por considerar apenas a norma padrão como aceitável entre os falantes de português, desqualificando as variantes que diferem daquela considerada representativa da forma “culta”.
13. As formas verbais que preenchem corretamente as lacunas são: chegou, fizesse, vinha, era, mumificavam.
14. Irá anunciar é composta pelo verbo auxiliar (ir) no futuro + verbo principal (anunciar) no infinitivo.
15. As construções que Ricardo Freire admite para o futuro são: a forma sintética (anunciará) e a analítica (vai anunciar), composta pelo auxiliar no presente + o verbo principal no infinitivo.
16. O autor revela uma visão bastante normativa e restrita da língua. são atestados disso as se-guintes passagens de seu texto: “até que você vá estar aprendendo a falar direito!”; “antiga-mente ele [o futuro] era róseo e promissor. Hoje ele se mostra feio e carregado de vícios”.
17. Ricardo Freire revela que, uma vez que a língua hoje não apresenta mais a forma sintética do mais-que-perfeito, pode-se considerá-la um arcaísmo. além disso, o autor propõe que se use a forma composta, uma forma que nem todas as gramáticas normativas sugerem. Isso significaria que o autor apresenta aqui uma postura mais aberta quanto às mudanças que se processam na língua. Porém, tal visão menos preconceituosa não ocorre em seus comentários sobre os “novos tempos futuros”, já que Ricardo Freire determina uma possibilidade como a correta enquanto condena a errada.
18. Ricardo Freire emprega, de maneira irônica, as formas que condena dos tempos que analisa em seu texto. Deste modo, apresenta o futuro do deslocamento (irá anunciar). Com relação ao mais-que-perfeito, o autor pede que se mantenham as formas “tomara, pudera, quem me dera, anhanguera e Guanabara”. No entanto, “anhanguera” e “Guanabara” são nomes, substantivos (não verbos), que apresentam uma terminação semelhante a dos verbos no mais-que-perfeito (-ra). Já “tomara”, “pudera”, “quem me dera”, embora sejam construídas a partir de verbos, são expressões cristalizadas da língua (expressões idiomáticas que assumem um caráter de interjeição), que exprimem desejo do falante.
19. ► O trecho em questão indica tempo futuro e, nesse caso, não é correto usar o verbo haver, pois, essa forma verbal só pode ser utilizada para indicar tempo decorrido, passado. a passagem que justifica a resposta é: “assim, com ‘há’, referindo-se ao futuro.”
► Quando se trata de indicar tempo futuro, o correto é utilizar a preposição “a”: “daqui a algum tempo”.
20. ► No exame a que João Ubaldo foi submetido, exigia-se um conhecimento gramatical mais sofisticado. O autor precisou identificar o sujeito de uma oração na ordem indireta e justificar a sua resposta com seus conhecimentos de análise sintática. Na prova oral em que foi o examinador, exigia-se o mínimo do candidato: leitura em voz alta, vocabulário básico e noções de flexão.
► O autor, a partir da demonstração da diferença de qualidade exigida nas duas provas, critica a decadência dos exames que têm por objetivo avaliar candidatos que desejam ingressar no ensino superior. Isto fica evidenciado pela ironia do trecho “Mandava-se o candidato ler umas dez linhas em voz alta (sim, porque alguns não sabiam ler)”.
21. O candidato afirma que for é um verbo, quando o termo corresponde à flexão do verbo ser ou ir.
22. É necessário que tanto o verbo ser quanto o verbo ir sejam conjugados no futuro do subjuntivo. sugestão: “Quando eu for candidato, responderei a todas as questões.” “Quando fora Bahia, visitarei a universidade.”
23. ► O verbo pôr, classificado como anômalo.
► Gerúndio: fondo; imperativo afirmativo: fões tu.
24. A forma verbal da 2ª pessoa do imperativo afirmativo (fões tu). Ela deve ser formada da segunda pessoa do singular do presente do indicativo, com a supressão da desinência -s (fõe tu).
25. ► A gerente da loja usou a 1ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo (vim) em
lugar da 3ª pessoa do singular do imperfeito do subjuntivo.
► Este erro ocorre quando o falante quer dizer “eu vou vir”. Há, nesse caso, uma confusão do infinitivo (vir) com o pretérito perfeito do indicativo (vim).
26. ► O verbo ver deveria estar conjugado no futuro do subjuntivo.
► “e se tu a vires por aí,…”/ “e se você a vir por aí,…”
Adorei as atividades. Tds enriquecem o trabalho…