Sob Pressão – Exercício de interpretação

Recentemente publicamos lá no meu outro site direcionado para quem está estudando para o Enem uma série de atividades de vocabulário a partir do texto “Sob pressão, de Elias José. A repercussão lá na comunidade do Facebook foi bem legal e resolvi elaborar mais algumas atividades, mas agora de interpretação de texto que ajudem nossos leitores a desenvolver atividades que auxiliem em provas como a do Enem, conhecida pela quantidade de atividades de interpretação até mesmo nas provas que não são de Linguagens. Você poderá também conferir o gabarito após a leitura e resolução dos exercícios abaixo. Além disso, elaborei alguns exercícios de estudo de vocabulário lá no site Português Pra Passar.

Lista de exercícios de interpretação

SOB PRESSÃO

Elias José

Não contei pra ninguém de casa que era promessa, mas pra Marineide não pude esconder. Ela era minha namoradinha na escola. Meu tio dizia que não era bom ficar namorando, pra não me prender de amores, coisa proibida pra padre. Fiquei com aquele “prender de amores” na cabeça e, francamente, não sei se já não estava preso. Eu, que gostava de sair pra praça e de estudar com Marineide, de repente me gelei. Ela, que era minha namoradinha, como diziam na escola, e a gente gostava de ouvir, recebia minha indiferença. Era indiferença só por fora, mas era. Ela quis saber a razão do desprezo, perguntou se não era fofoca dos outros. Achei que não era certo ficar enganando uma pessoa tão boa. Disse que gostava um tantão dela, mas não podia ser. Contei a promessa. Marineide ficou vermelha, passou os braços nos olhos. Não tive coragem de ficar olhando se era lágrima mesmo ou se estava fingindo, como as namoradas nos filmes e novelas.
Marineide não soube segurar a língua nos dentes e contou pra dona Amália, a professora de História. Dona Amália veio me convencer de que a gente deve ser o que tem vocação, que era melhor esquecer a promessa, ou trocar por outra. Ninguém sabe o que quer ser logo nos primeiros anos de ginásio. Nem os meninos do colegial sabiam, como eu … Meu tio estava errado de me fazer prometer uma coisa dessas. Não que a profissão fosse ruim, como meu pai afirmava, mas precisava de vocação, mais do que qualquer outra.
Fiquei confuso, tinha de cumprir a promessa, pois titia estava em casa, curada. Era bom sentir ela lá, alegrando a gente, mesmo vivendo um pouco distante.
O dia que vi o lencinho branco, bordado com capricho por titia, todo manchado de sangue, fiquei duvidando do valor da promessa. Se não estava curada, eu poderia ser fazendeiro, logo que acabasse o ginásio. Meu pai até me prometeu pôr, se eu quisesse, numa escola agrícola, o que seria uma boa. Minha cabeça doía de pensar. Até evitava muito contato com a Paineira, pra não sofrer depois. Era um sacrifício, pois eu sempre gostava de mexer com os bezerros novos, separar as vacas, curar bicheiras delas, ajudar no plantio ou nas colheitas, sair galopando o meu Russo sem pensar em nada. Nem cuidar do Russo, minha paixão, estava cuidando. Tudo por causa daquela bendita promessa que não adiantou pra nada, pois titia punha sangue no lencinho branco.
Quem sabe foi a minha falta de fé, ao fazer a promessa, que fez titia piorar? Pensar assim é que me doía mais. Comecei a repetir diariamente a promessa, como me aconselhou tio Messias, pra não me esquecer dela e pra Santa Filomena se lembrar sempre de titia.

Os que podem voar. Belo Horizonte, Comunicação, 1981. p. 28-30 — Coleção do Pinto.

VOCABULÁRIO


  • francamente – sinceramente
  • indiferença – desprezo
  • vocação – tendência para determinada atividade; inclinação

ESTUDO DAS PALAVRAS

Antes de começar os exercícios, vejamos algo sobre família das ideias.

Observe as palavras:

francamente — sinceramente — verdadeiramente

Elas representam praticamente a mesma ideia: de maneira franca. Logo, estas três palavras pertencem à mesma família de ideias.
Chama-se família de ideias o conjunto de palavras que representam basicamente a mesma ideia, ou seja, mantêm relações de sinonímia. Por exemplo: casa, residência, moradia, sobrado, lar, apartamento, abrigo, teto. Todas estas palavras representam a mesma ideia: lugar onde se mora. Logo, trata-se de uma família de ideias.

Veja um exemplo de exercício que podemos fazer sobre isso:

Copie as palavras, escrevendo, ao lado, outras da mesma família de ideias:

  • Medo – receio, pavor
  • Segurar: deter, prender
  • Curada: recuperada, boa

ESTUDO DO TEXTO

1.  Quem conta o texto?

2.  Qual o desejo do tio em relação ao narrador?

3.  Como o narrador se relaciona com Marineide? Justifique sua opinião com fatos do texto.

4.  Como você entendeu as palavras de Dona Amália?

5.  Segundo o texto, qual a verdadeira vocação do narrador? Fundamente sua opinião com fatos do texto.

6.  Qual a doença da tia do narrador?

7.  Qual a promessa feita pelo narrador?

8.  Quais as pessoas que tentam influenciar as decisões de narrador?

9.  Por que Marineide não quer que o narrador estude para padre?

10.  O texto apresenta os sentimentos do narrador em relação à tia. Em que parágrafo aparecem e quais são esses sentimentos?

11.  Afinal, qual é o problema que o narrador enfrenta?

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Gabarito dos exercícios

1. O garoto

2. O tio deseja que o narrador estude para padre.

3. Muito bem. Confia nela, a ponto de contar sobre a promessa.

4. (Resposta pessoal — Dona Amália deseja convencer o menino de que é muito cedo para escolher a profissão.)

5. É ser fazendeiro. Ele gostava de mexer com os bezerros novos, separar as vacas etc.

6. Tuberculose.

7. O narrador estudará para padre se a tia recuperar a saúde.

8. Marineide, Dona Amália e o Tio Messias.

9. Porque ela o ama e quer ficar junto dele.

10. O último. O narrador gosta muito da tia.

11. O narrador quer namorar Marineide e trabalhar na fazenda, mas está sendo pressionado para estudar para padre.

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