Como aumentar o repertório para a redação

Algumas propostas de redação vêm acompanhadas de coletâneas de textos de razoável extensão.

Com essa medida as Bancas examinadoras pretendem tornar o exercício de redigir durante a prova um pouco menos artificial.

Vamos entender melhor esse ponto: na vida cotidiana, antes de iniciar uma redação, qualquer redator faz uma pesquisa sobre o assunto, a fim de ampliar o seu repertório de informações e selecionar argumentos que deem sustentação às suas ideias.

Como isso não é previsto no momento da aplicação da prova, a redação de vestibular se configura como um exercício de escrita bastante artificial, muito distanciado das situações reais de produção textual. *

Para minimizar esse problema, a maioria das bancas oferece como suporte uma coletânea seletiva que cumpra um papel similar ao dos textos que o candidato poderia tomar como base se lhe dessem tempo para pesquisar.


Assim como ocorre quando se faz qualquer pesquisa, na coletânea o candidato encontra textos de diversos gêneros, que podem ser úteis ou não, dependendo do tipo de orientação argumentativa que ele pretende adotar.

A seleção dos dados para a redação

Por isso é necessário, antes de tudo, distinguir entre os dados apresentados as informações úteis e as inúteis.

O critério para esse julgamento é o projeto de texto do candidato, portanto, é um critério bastante pessoal: é útil a informação que se articula ao repertório do redator e que serve para defender e confirmar seu posicionamento.

Um dado desconectado da progressão do texto, mesmo que interessante para o debate, não deve ser aproveitado.

E importante selecionar apenas os dados mais relevantes para os objetivos pretendidos com aquela dissertação.

A tentativa de aproveitar todos os dados da coletânea ou a maioria deles não dá bom resultado; ao contrário, denuncia a falta de critério na seleção dos dados mais pertinentes e relevantes para a tese.

Quem tenta inserir todos ou mesmo a maioria dos dados da coletânea, em geral, o faz de forma forçada, prejudicando a coesão e a coerência, o que afeta a progressão textual.

O resultado costuma ser uma colcha de retalhos, em que não se percebe um projeto de texto autoral, que sugira a presença de um enunciado crítico responsável pela organização do texto.

PARA ESCREVER BEM É PRECISO TER O QUE DIZER

As vésperas das provas, é muito comum que os alunos procurem os professores para saber qual o tema mais provável para o vestibular que vão prestar.

Por que tantos deles manifestam essa preocupação? A resposta é quase óbvia: é sempre mais conveniente escrever sobre um tema a respeito do qual já se refletiu.

Ou seja, quem tem maior carga de informação tem maiores possibilidades de discorrer de modo crítico e amadurecido sobre uma questão, de fato colaborando para enriquecer o debate social a respeito dela.

O problema é que essa preocupação muitas vezes se transforma em verdadeira armadilha: não há dúvida de que dispor de um repertório mais sólido sobre um tema pode favorecer o candidato, mas a tentativa de “encaixar” argumentos recolhidos de última hora, às vésperas da prova, pode arruinar completamente uma redação.

Não se espera somente que o aluno faça comentários sobre um tema, mas que ele se engaje em um debate cujo enfoque está estabelecido pela proposta. Como exemplo, podemos usar uma proposta da Fuvest, incluída no final desta atividade.

Mesmo que alguém “adivinhasse” que a redação versaria sobre a amizade, isso não representaria vantagem.

Naquele ano, não bastava falar sobre a amizade: era fundamental refletir sobre um paradoxo que se configurava na relação entre os textos selecionados para constar da proposta e as instruções finais redigidas pela Banca examinadora: por um lado, é muito frequente, desde a Antiguidade, a apologia da amizade; mas, por outro, a possibilidade de se estabelecer uma relação tão solidária no mundo contemporâneo é cada vez menor.