Exercícios sobre Barroco para o Enem

Não é comum caírem questões muito específicas de Literatura no Enem, mas, numa época em que as tirinhas predominam na maioria das provas de vestibular, o Enem ainda usa textos literários para formular questões bem elaboradas de interpretação de textos e sobre linguagem. Um dos períodos mais presentes nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio é o Barroco. Reconhecer a linguagem, estrutura e recursos linguísticos deste tipo de texto é essencial para um candidato num exame que avalia todo o conteúdo da vida escolar do mesmo. Questões sobre figuras de linguagem, sobretudo sobre hipérbole e antítese quase “batem cartão” nas provas desde que o exame foi criado. Por este motivo, a lista de exercícios abaixo pode ajudar bastante quem deseja 1000 pontos na prova do Enem.

Para responder às questões, leia o texto a seguir.

Renascença e Barroco

A Renascença é a arte da beleza tranquila. Oferece-nos aquela beleza libertadora que experimentamos como um bem-estar geral e uma intensificação uniforme de nossa força vital. Em suas criações perfeitas não se encontra nada pesado ou perturbador, nenhuma inquietação ou agitação — todas as formas manifestam-se de modo livre, integral e sem esforço. […]
O barroco se propõe outro efeito. Quer dominar-nos com o poder da emoção de modo imediato e avassalador. O que traz não é uma animação regular, mas excitação, êxtase, ebriedade. […] Ele não evoca a plenitude do ser, mas o devir, o acontecer; não a satisfação, mas a insatisfação e a instabilidade.

Heinrich Wõlfflin. Renascença e Barroco. São Paulo: Perspectiva, 1989. (Fragmento).


1. O autor do texto anteriormente citado faz uma comparação entre dois estilos artísticos.

a. Quais são eles?
b. Resuma brevemente quais as principais diferenças entre esses estilos.

Agora analise atentamente a figura a seguir.

imagem-barroco-1

2. Descreva a cena retratada por Caravaggio no quadro.

3. De acordo com as características identificadas por Wõlfflin, podemos afirmar que se trata de um quadro barroco. Explique por quê.

Leia o texto de lope de Vega, autor seiscentista espanhol.

Ir e quedar-se

Ir e quedar-se, e com quedar partir-se,
Partir sem alma e ir com alma alheia;
Ouvir a doce voz de uma sereia
E não poder do mastro despedir-se;

Arder como uma vela e consumir-se
Fazendo torres sobre a branda areia,
Cair de um céu à infernal cadeia
E de ser-se um demónio não sentir-se;

Falar por entre as mudas soledades,
Pedir de empréstimo com fé paciência,
E a quanto é temporal chamar eterno;

Crer em suspeitas e negar verdades:
Eis o que chamam nesse mundo ausência
Que fogo é n’alma e é na vida inferno.

VEGA, Lope de. In: SENA, Jorge de. Poesia de vinte e seis séculos. Coimbra: Fora do texto, 1996.

– Quedar: ficar, permanecer.
– “ouvir a doce voz de uma sereia/e não poder do mastro despedir-se”: os versos remetem a uma cena da Odisseia em que Ulisses, para que não sucumbisse ao canto das sereias, pediu que fosse amarrado ao mastro de seu barco.
– Soledade: o sentir-se só, solidão.

4. Sobre o que fala o poema de Lope de Vega?

5. Quais características do barroco podemos destacar deste poema?

Agora leia o poema de Luís de Góngora.

Ora que a competir com teu cabelo
Ouro brunhido ao sol reluz em vão,
E com desprezo, no relvoso chão,
Vê tua branca fronte o lírio belo;

Ora que ao lábio teu, para colhê-lo,
Se olha mais que ao cravo temporão,
E ora que triunfa com desdém loução
Teu colo do cristal, que luz com zelo;

Colo, cabelo, fronte, lábio ardente
Goza, enquanto o que foi na hora dourada
Ouro, lírio, cristal, cravo luzente

Não só em prata ou víola cortada
Se torna, mas tu e isso juntamente
Em terra, em fumo, em pó, em sombra, em nada.

ARGOTE, Luís de Góngora y. Poemas de Góngora. São Paulo: Art Editora, 1988.

– Brunhido: polido.
– loução: cheio de frescor e brilho; agradável à vista, belo, vistoso.
– Víola: viola, planta do gênero das violáceas. o acento é opção estética do autor (nota do tradutor da edição citada).

6. Que figuras de linguagem típicas do barroco podemos destacar deste poema de Góngora? Cite dois exemplos.

7. Qual a relação entre o uso destas figuras de linguagem e o termo cultismo, também chamado de gongorismo – nome este dado exatamente por ser um atributo corrente na poesia de luís de Góngora?

Leia atentamente o poema a seguir para responder às questões.

Definindo o amor

Ê gelo abrasador, é fogo gelado,
E ferida que dói e não se sente,
Ê um sonhado bem, um mal presente,
Ê um breve descanso mui cansado.

Ê um descuido que nos dá cuidado,
Um covarde com nome de valente,
Um andar solitário entre a gente,
Um amar somente e ser amado.

E uma liberdade encarcerada
Que dura até o último paroxismo,
Enfermidade que cresce se é curada.

Este é o menino amor, este seu abismo:
Vede qual amizade terá com nada
Ele que em tudo é contrário de si mesmo!

QUEVEDO, Francisco de. Poesía Varia. 12. ed. Madri: Cátedra, 2000.

– paroxismo: acesso violento de uma enfermidade no qual cessa toda a atividade do doente.

8. o soneto do poeta espanhol Francisco de Quevedo é bastante parecido com outro poema muito conhecido da nossa língua portuguesa e o qual estudamos em um dos tópicos passados. Que soneto é esse e qual seu autor?

9. Qual é a temática abordada pelo texto em questão? de que fala o poeta?

10. Quanto ao uso das figuras de linguagem, quais são aquelas que mais saltam aos olhos na leitura do poema? dê pelo menos um exemplo da cada uma delas.

Gabarito dos exercícios

1. a. O renascentista e o barroco.
b. Segundo Wõlfflin, o estilo renascentista seria possuidor de uma beleza tranquila, que produz bem-estar, intensificando nossa “força vital”. Não há inquietação, nem agitação. Já o barroco quer dominar-nos pela emoção. Sua arte produz excitação, êxtase, ebriedade, insatisfação e instabilidade.

2. O quadro do pintor espanhol descreve a cena da morte da virgem. Há pessoas que choram em volta do corpo de uma mulher desfalecida, envoltas em uma atmosfera sombria e de muita emoção.

3. A cena, cheia de emoção, produz êxtase, dada a extremada manifestação de dor expressa pelos personagens retratados. Percebemos certa instabilidade no jogo do “claro e escuro” (Chiaroscuro) que não nos permite visualizar bem o quadro na sua totalidade, outra característica marcante das obras produzidas no estilo barroco.

4. Vega está falando da solidão e do sofrimento diante da ausência da pessoa amada, o que fica claro quando diz “eis o que se chama nesse mundo ausência”.

5. As antíteses (ir/quedar-se; céu/inferno) e os paradoxos (quanto é temporal chamar eterno;/ crer em suspeitas e negar verdades) são figuras típicas do estilo barroco presentes nesse poema.

6. Temos as inversões (hipérbatos), por exemplo, em “e com desprezo, no relvoso chão,/Vê tua branca fronte o lírio belo”; as comparações (cabelo/ouro; lírio/fronte; lábio/cravo; colo/ cristal) e o processo de “disseminação e recolha” (após descrever cada uma das características da mulher retratada nos versos anteriores, o poeta as recolhe na terceira estrofe: “colo, cabelo, fronte, lábio ardente”/”ouro, lírio, cristal, cravo luzente”).

7. O cultismo caracteriza-se pelo uso de várias figuras de linguagem, o que produz um estilo mais trabalhado, graças aos vários jogos de palavras. É exatamente o que ocorre neste poema, em que as inversões e as comparações produzem jogos de palavras e significados típicos do cultismo.

8. O texto de Quevedo reproduz a temática contida em um soneto bastante conhecido de Luís de Camões (“Amor é fogo que arde sem se ver”). É preciso destacar, no entanto, que esse procedimento da imitação não constitui algo ilegítimo. O nosso conceito moderno de criatividade é bastante diferente daquele praticado nas épocas que estamos estudando. Para aqueles poetas, a imitatio, ou seja, a imitação, era um procedimento usualmente praticado na literatura.

9. O poema, como o próprio título indica, procura “definir o amor”, exprimir seu significado.

10. Tal qual no poema de Camões, as antíteses e os paradoxos são abundantes neste texto de Quevedo. Como exemplo, podemos citar a correlação entre fogo/gelo, covarde/valente — antíteses — e as expressões “gelo abrasador”, “liberdade encarcerada” como paradoxos.